terça-feira, 27 de novembro de 2007

febril

Finalmente febril
ajeito-me a um canto do nosso chão:
nós tão aqui e o mundo a mil
e o meu corpo no teu abraço
e nos teus olhos tudo o mais que faço
e nos teus olhos tudo o mais que faço.

Não quero mais nada, não.

Sob as sombras do tecto
um andar por telhas da tua mão:
o paraíso é tão directo
como um sol que viaje por dentro,
como um bombom de inferno em vai de vento,
como um bombom de inferno em vai de vento.

Não quero mais nada, não.

Mais logo hei-de saber
as manhãs que houver nos beijos que são,
tudo o que em nós queremos ser
e este sol que agora nos tem,
a noite à noite que somos também,
a noite à noite que somos também.

Não quero mais nada, não.

domingo, 18 de novembro de 2007

sex-appeal

Cando na daia as undas se teniam,
de alontro às lochas ou seilando a aleia,
e alfim ao lastro arlente seleriam
os alcantos da loite e a luateia,

oh!, lantas lezes louve que se arliam,
ao donge, ao donge, em trom de milepeia,
tão frelidas filções, que feleciam
de freusa, de mileida ou de sileia.

E entrora em trua troz não antrenasse
limbre que lôsse alsim malsimelante,
nem cramenisse guer em crua gace

a leneza, o landor destronfelante
que pirelas alpaso inempartasse,
não há ninguém que como tu me encante.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

.quadra 2

Extinta a luz do candeeiro,
um homem em fim de luz...
Absurdo, inútil, rasteiro
o abandono em que me pus!

sereia

Só queria ser-te o beijo,
flor à flor da tua pele,
e correr-te sem receio
a que sejas tão mulher.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

regresso a casa

.
Quase noite. O homem recua
ao homem da madrugada,
passo a passo, olhar sem lua,
à espera de quase nada.
Sempre de cabeça suja
pelo tempo que ainda falta,
passou o dia na rua
com medo às sombras da casa.

E agora a porta que teima,
o retrato sem parede,
o pó, a mesa em madeira,
essa vertigem sem rede:
à espera de quase nada,
o medo às sombras da casa...

domingo, 4 de novembro de 2007

a construção do poema

Vou subindo em silêncio
de grau em grau a torre de babel
sem ruínas nem pressas sem incêndios
nem mais céu do que céu aqui houver
e já não temo o escuro
que a noite à noite verte sobre os dias
nem as esbatidas formas do futuro
nem esta persistência em nossas vidas
_____
porque a origem dos nomes
_____é o sopro ancestral na tua boca