Chega a casa e encontra a mulher diferente. Como sempre, prepara o suspiro do cansaço; como nunca o suspiro lhe é roubado: a boca dela na boca dele, um beijo a meio do beijo que não completa.
Apagam-se as luzes, uma única vela ilumina o jantar.
O que se passa, Manuela?;
Saudades nossas, querido. Como te correu o dia?
Ele cala, sorri, gagueja, mente.
O peixe no forno, o vinho que abraça, a sobremesa impossível. Uma ternura de olhos espiando o Obrigado, querida.
E deitam-se e amam-se como há muito não. E à luz dos contornos: outro perfume, outro sabor, outra entrega, ah!, mulher diferente. Devoram-se a galope na sela da noite, confessam-se coisas tamanhas e tantas eternidades...
Joana, meu amor...
...
...
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E o galope que trota e o trote que trava. Um maremoto que se prepara no silêncio repentino, na morte dos ofegos. A paralisia! A espera atenta! O medo!
Quando a torrente chega, não há mais comporta que a do seu corpo. Prende-a, impede-lhe os movimentos, morde-lhe a cara para lhe segurar a iniciativa.
E com o medo que vai crescendo agiganta-se a raiva. E o terror! E a mulher diferente...