Nesta enorme e colorida tela de entender o mundo que é a dos auto-denominados homens sapientes sapientes – o mesmo é dizer: sapientes a valer – tenho a tendência para me achar muito importante.
A tendência. Que, num cantinho da tela, há matizes – alguns dirão sombras – na breve pincelada que habito. Esses matizes também me fazem crer, e muito, e tanto, e cada vez mais, que nada tem menor importância do que eu. Não valho mais, por exemplo, do que este amigo de quatro patas que agora me pede para ir à rua: sou apenas um modo diferente de estar no mundo, sem nenhum tipo de acesso privilegiado ao que se queira denominar de verdade.
Sem esquecer que, como dizia o poeta, «não haver deus é um deus também», o não me dar eu a importância que não tenho implica que não precise de imaginar quaisquer deuses a amparar-me: estão ausentes das minhas ânsias a sua existência e a sua não-existência. Também implica não me ser nada incompreensível a crença de muita gente nesses deuses. E implica, enfim, que me interesse mais ir agora passear o meu amigo do que demandar conclusões impossíveis.
Nenhum fogo se alimente de mim, dê-se-me a importância que tenho.
*a propósito da polémica surgida com a publicação de «Caim», de José Saramago
domingo, 25 de outubro de 2009
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
ai maité...
Quando nos longínquos anos 80 eu adolescia, caíam-me no goto meninas de fala mimada e acto indeciso – e não havia melhor queda que a tua. Não perdia um episódio da Guerra dos Sexos ou da Vereda Tropical, confesso o crime, e terás sido responsável pela diluição do meu estudo no estupor das madrugadas, em vésperas de testes.
Não faço ideia se corresponderia a tua verdade à minha fantasia, que nunca procurei saber da tua vida nem dos teus graus de liberdade. De qualquer modo, os anos passaram e de mulheres-criança me bastei: guardo para mim as energias que posso.
Mas atrevo-me, agora, a reatar a fantasia: se ainda tens a fala mimada que eu deixei de valorizar, a verdade é que adoro esse teu novo ar de 3 em espelho e faisandée. Estou que estou por uma conversa com tigo e vinho; por saber o que andaste tu praticando, como, com quem, que dia e que hora, em todos estes anos de sem-novelas minhas; por rir-me a bandeiras despregadas do modo emproado como imitas um português do povo.
Combinamos alguma coisa? Pode ser nos Jerónimos, onde Camões nunca esteve mas de onde decidiu escapulir-se. Ou junto à fonte dos amores, perdoa-me a ousadia. E se quiseres... se quiseres, até te ensino como se cospe a sério.
Mas sem gravações, não fosses achar um coche nojento.
sábado, 10 de outubro de 2009
QUEM
Quem fechasse os olhos e as palavras lhe morressem. Quem não procurasse a ausência e esta o encontrasse. Quem nada entendesse e, como sempre, nem o soubesse. Quem ao fim da pena chegasse e a pena lhe valesse.
Quem fosse eu que mais não fosse, quem desfosse.
Quem fosse eu que mais não fosse, quem desfosse.
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