sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

desconstrução

O Júri do Prémio LeYa reuniu esta tarde na sede da editora, em Alfragide, para deliberar sobre a atribuição do Prémio relativo a 2010.
Perante originais que, apesar de algumas potencialidades, se apresentam prejudicados por limitações na composição narrativa e por fragilidades estilísticas, o Júri entendeu que as obras a concurso não correspondem à importância e ao prestígio do Prémio LeYa no âmbito das literaturas de língua portuguesa. Em consequência, e de acordo com a alínea f) do art.º 9 do respectivo Regulamento, decidiu por unanimidade não atribuir o Prémio LeYa referente ao ano de 2010.

1) neste comunicado de 29 de novembro passado     o júri esqueceu-se de referir que apenas leu 4 originais     escolhidos por uma comissão de leitura de entre 325 obras concorrentes          esquecimento grave porque há-de pensar quem não o souber que a argumentação exposta se refere a todas as obras


2) de qualquer texto     com boa ou má vontade     critério assim ou critério assado     se pode concluir que apresenta limitações na composição narrativa e fragilidades estilísticas          estas são expressões que     pela sua universalidade     dizem tudo e não dizem nada e tenho a certeza de que também encaixariam bem os textos premiados no par de anos anterior


3) o prémio leya ainda não tem a importância e o prestígio que o comunicado garante          é muito recente para isso     ainda falta perceber se os seus premiados anteriores realmente o distinguirão         por enquanto     o prémio leya     e parafraseando o que se costuma dizer do prémio nobel     vale o que vale: 100 000 euros


4) eu concorri          não sei se o meu texto está entre os 4 com limitações narrativo-estilísticas ou se faz parte dos 321 que foram directamente para o lixo     mas cada vez mais me convenço que o comunicado do júri é indelicado e mesmo desrespeitoso no seu conteúdo para quem     como eu     pensa um pouco o mundo          ficou apenas por dizer o mais importante:     o júri ou grande parte do júri não gostou de nenhuma das 4 obras que leu

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

tão simples

o grito é como as coisas muito complicadas     que exigem palavra certa em rotina impossível

mas um dia entenderás
que sempre a melhor arte é a do silêncio
que o amor nasce e vive entre sussurros
que só puxa pela garganta quem já perdeu o futuro

setenta e três do quilo

como sempre     hoje enfeitei desistências instaladas com sorrisos breves mas largos
comi tudo o que havia no prato a ver se recupero os quilos que me regressem ao mal-estar antigo     e também chorei qual prostituta bonitinha quando ao cabo de meia hora um homem a sério veio fazer de mim princesa

num dos blogues que sigo     li rasgados consensuais aflitivos elogios de autora e comentadores a um dos livros que mais detestei          sabe quem me conhece que me refiro a o velho e o mar de hemingway e que nunca fui capaz de ler outra coisa desse bronco

já no jornal de letras     sempre tão intelectualóide     constatei mais uma vez que de entre os escritores finitrintões apenas me vai interessando um que se apelida mãe e pai se quer

também no mesmo jornal     o meu luxo de fim de ano     descobri o autor esquecido do primeiro romance histórico português         chamava-se guilherme centazzi     e pareceu-me em duas ou três citações bem melhor que o fraquinho do almeida garrett     o seu desde sempre sobrestimado contemporâneo

acabo estes desabafos precisamente com uma passagem do centazzi     porque foi nela o momento alto do meu dia     o momento em que desfiz o sorriso inocente para me desfazer no riso da inveja:

meus escritos (...) não são engendrados à custa das óperas de são carlos; nem meus versos recheados de belos pensamentos alheios, alinhavados com palavras doces como torrões de açúcar (...)
eu cá sou assim...
bom ou mau quero chamar-lhe meu.

nem mais

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

um homem melhor (lhasa de sela - el deserto)

primeiro consolo:     desistir ele de procurar     desistir tanto e de tal maneira...     mas que procura foi essa mesmo?

segundo consolo:     não ressentir a tua procura     essa procura que o exclui     e que ainda há pouco tanto lhe doía

a medida justa?
o repetido filme nocturno em que tu esperas um filho que não é dele
e isso já o não despertar
e isso não amarrotar a vida
e as suas mãos estarem vazias porque vazias são

a partir de agora esse homem deixa de sonhar

.

dizem que     vai fazer um ano no dia 1     lhasa de sela partiu
mas quem acredita nisso?

sábado, 25 de dezembro de 2010

friu

no terceiro ano do meu curso de psicologia     um docente da casa que vinha de alguns anos a ensinar na universidade do minho informou-nos que em lisboa nunca se constipava porque em lisboa não havia frio     o que havia era friu

à parte a brincadeira que nem todos perceberam     e que se explica por muitos lisboetas se referirem ao rio como quem dele sempre se riu     a verdade é que eu já não sei que mais fazer para aguentar o gelo da casa

às vezes apetecia-me largar esta vida sentada ao computador     e pôr-me a viver sem destino     livre da cabeça e de pulmão cheio
às vezes sonho deixar que o tempo corra por mim e me apanhe desprevenido num mundo que gire sem o meu peso

que bom seria poder constipar-me a sério

il ne faut pas devenir amer

as únicas férias que tive     levou-me nelas a sophie
fazia verão em noventa e três e então como hoje
eu não era grande espingarda

daquelas duas semanas e meia de portugal lembro algumas alegrias e muitos castelos     mas sobre tudo a tristeza por mais uma paixão em solilóquio

os anos apuram e nos temperos do fracasso me fui requintando
só tenho pena de ter perdido olhos para as coisas simples
e não poderia lamentar mais ter amargado tanto

ela já temia que tudo isto poderia acabar assim     que ao caldeirão da minha centésima desistência não se cansava de soprar:
ah mon cher tozinho     il ne faut pas
devenir amer

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

a mais certinha das ciências

chegada pela manhã e para o café     trazia olheiras na mais recente confissão dos astros
planetas quase tudo     recordo bem     mas ó luís
há mais que sol para nome de estrela

logologo inquiria e tu?     e sempre me gritigriticriticava
esta rota de carneiro em rotina de balança

até que um dia nos perdemos de tanto nos termos perperdido
o que só prova     pó com pó
que a astrologia é patranha maior ou mesmo até
a mais certinha das ciências

sem

a partir daqui os dias crescem
e talvez tenha sido este o último solstício

a deus e a marx      esses que tanto hipócrita junta nas capelinhas de hoje     só peço que de algum modo se me dê o próximo equinócio

de resto     que se foda o meu futuro

canto do sencisne

quem vertigem fosse em garrafa de-----pode ser cerveja pode-----e sobrevivesse ao futuro durante o escorrega da fronteira castanha-----e cuspisse desprezo sobre os antirreticentistas da moda-----
e fizesse isto ... ... ... ... isto ... ... ... e mais isto ... ... ... até à náusea
                                                                   
eu já sei que perdi
-----agora quero mais é andar à roda

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

meio dom da natura

de bocage o desprendimento     o negócio impossível     e     claro     a penca
de tolentino a ânsia por mama     o auto-empequenecimento     e     claro     mais nada

de atitudes malconciliáveis comportamentos cambaiados
e amorrece por transes da ventura
o mísero cavalo lazarento

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

tão inverno

dezembro fez-se tão inverno que se eu pudesse
metia a vida no quarto

talvez então dormisse muito
_____quente dos cobertores e da flanela nos lençóis novos
_____e do cão que suspira e aconchega e encaracola
talvez e nesse caso os sonhos filtrassem a tristeza
como água nas paredes que a espera rachou

talvez e também nesse caso
durante muitos anos me escondesse a vida
e só me despertasse quando também eu já fosse inverno

bem pior vão as primaveras de que me tens falado

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

crónica

experimentei palavra a palavra
com pronúncia cheia e dias de permeio

havia as que eram nomes como os nomes que nos demos
e também as que eram tarde se foi tarde que nos quisemos
mas a maior parte nascia da morte
e palavra com palavra a morte veio mesmo
pela esquina esperada

ainda assim passou imenso tempo
como quem no abismo trabalhasse
e não trabalhasse mais que o regresso

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

pelas pessoas felizes

1. deixa partir em ti quem já de ti partiu          sobretudo      e se não o conseguires      abafa esse estúpido e repisado grito de ajuda com que aborreces as pessoas felizes

2. mente bem     mente muito e contra todos os puristas que só vêem mentiras nas mentiras dos outros          mente acima de tudo para fugir às longas e aborrecidas conversas sobre o binário dos automóveis          e mente ainda mais     muito mais     nos gestos e palavras com que garantes estar bem às pessoas felizes

3. investe na arte da ausência     aprende-a melhor     não desistas mesmo que      por hipótese     ta ponham à prova          nunca te esqueça que não há melhor presente que a tua ausência para as pessoas felizes

4. podes escrever muito     se quiseres     mas escreve para ti          evita o mais que puderes esta coisa dos blogues e dos livros     que as tuas queixas não agradam nada nos escaparates das pessoas felizes

5. e já agora     se não for pedir muito     morre mais rápido           não seria grande a alegria      posto que és insignificante      mas sempre abririas o champanhe de algumas pessoas felizes