quarta-feira, 28 de março de 2012

balelas de escritores

A boa escrita, diz por aí quem julga fazê-la, exige imensa leitura. Conclusão minha: coitadinhos dos escritores antigos, que nem leram uma centésima parte do que eu, paupérrimo leitor e escritor contemporâneo, já li. São todos piores do que eu e mil vezes piores do que essa catrefa de bons escritores que anda por aí a papar livros.

A boa escrita exige, isso sim, a leitura - atenta, apaixonada e na idade melhor - de meia dúzia de bons livros. Mas, acima de tudo, assenta numa incapacidade, com várias e complexas explicações, para  guardar segredos. Se depois se lê mais ou menos, isso já é coisa ao gosto de cada um.

Já nem falo da necessidade, também tão apontada, de viajar muito. Essa é outra balela que não resiste à análise de inúmeras biografias de grandes autores.

terça-feira, 27 de março de 2012

16.03.2012 - 26.03.2012

A mãe veio hoje para casa, depois de quase onze dias no hospital. A operação correu bem mas o recobro foi um pouco difícil, com muitos enjoos, vómitos e tonturas. Descobriram, depois, que se passava o que muitas vezes se passa depois de uma cirurgia: uma eliminação acentuada de ião potássio pelos rins. Assim que lhe começaram a repor aquele ião, ela começou a melhorar.

Não corri esta meia-maratona de março. Não me senti com força para tanto povo, embora há duas semanas tenha feito, num treino solitário como todos os meus, menos de duas horas em 21 quilómetros e meio, um terço deles em subida bem acentuada. Creio que na meia-maratona de ontem, toda plana e a descer, seria bem capaz de fazer menos da hora e cinquenta. Pois se na de Dezembro, mais difícil que esta, gastei uma hora e cinquenta e cinco sem qualquer treino... Ainda estavas aqui, lembras-te?

Tenho pensado muito no primeiro ano do nosso longo encontro, esse ano em que não soube cuidar de ti. Espero que os outros onze, e sobretudo os últimos oito, tenham deixado no teu coração a marca indelével do meu amor. E espero um dia poder sentir no meu o teu perdão.

Se estivesses aqui, fazia-te festas até adormeceres e mais festas depois que não te acordassem.

domingo, 25 de março de 2012

haikai xiv

um pardal entre pombas:
de olhos no chão e mãos nas costas
a patrulha da fome

terça-feira, 20 de março de 2012

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nós e o velho relógio:
entre os dois traços de uma hora
eram cinco os segundos

sexta-feira, 16 de março de 2012

03.03.2012 - 15.03.2012

Em 2011, não me passava pela cabeça que o teu 2012 viesse a ser tão pequeno. Vamos a meio de março e reparei que todas as datas me saem com um ano de vida: vou remendar agora as que puder.

A mãe foi internada hoje e desta vez parece que para operar. Diz que no Santa Maria passa uma grande seca, está num quarto com outra pessoa que não lhe liga nenhuma e parece que se ressente. Só agora reparo: sou mais parecido com o pai - tu não conheceste o pai, vieste viver comigo meio ano depois de ele morrer e por isso eu não pude ser logo teu amigo. O pai gostava de estar só, como eu. Espero é que não tenha sido pela mesma razão que a minha: uma culpa ancestral em ocupar o tempo e limitar o espaço dos outros.

Não sei, ninguém sabe o que se passa com o meu sistema circulatório: vive em tensão permanente, 17-10, e não sai daí nem com medicamentos. Mas creio que um dia se descobre, e digam o que disserem, a verdade será apenas uma: faltas-me..., não há noite, passados quase dois meses, em que não me acordem os pesadelos do teu fim.

Agora vou correr um pouco, muito devagarinho não me vá dar o badagaio numa altura tão pouco propícia, e durante uma ou duas horas: acontece até que, sempre que arranjo coragem para o fazer, a hipertensão se esconde por uns tempos e tu regressas ao meu sorriso.

Muitas festas na tua barriguinha branca, querido.

quarta-feira, 14 de março de 2012

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A vida é o prémio repetido do que já não somos. Quando penso em nós, já morreste e morri.

quinta-feira, 8 de março de 2012

L. C. - HAB. LIT. (08-03-2012)

Licenciatura: Um Pinguim na Garagem (2003, publicado em 2009);
Mestrado: (2008, romance, na gaveta, à procura de nome);
Doutoramento : (2011, romance, na gaveta, merece tanto como o anterior).

Entretanto, poesia. E essa é a vida.

domingo, 4 de março de 2012

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Dizem os físicos que andar é empurrar o planeta para trás. Por isso, anda. Corre mesmo. Talvez com a tua ajuda lhe possamos reverter o sentido.

sábado, 3 de março de 2012

23.02.2012 - 02.03.2012

Esta gripe lembra-me a de ano e meio atrás. Então foi quase um mês de cama, a de agora vai ainda na semana e pouco. Mas a outra não custou nada, estiveste sempre ao meu lado e aconchegavas o teu corpo quente e peludo à minha febre.

Não tenho corrido e creio bem que não vou cumprir a promessa que te fiz de melhorar os meus tempos no prazo de um ano...
Também não tenho lido, sou um leitor cada vez pior. Agora dizem muito por aí que é preciso ler muito para escrever bem. Balelas. É preciso ler muito para se estar actualizado mas não para se escrever bem. O Camões não deve ter posto os olhos em mais do que meia dúzia de bons livros. E o Platão, quanto terá lido? O que é preciso é ler duas ou três coisas muito boas e estar atento ao mundo.

A mãe não chegou a ser operada: chegaram à conclusão de que estava anémica e a operação era um risco. Agora, só quando os índices de hemoglobina subirem é que volta a ser internada.

A adopção por homossexuais chumbou no parlamento. Das duas, uma: ou a maior parte dos deputados considera a homossexualidade uma doença ou não tem coragem para ser impopular.

Até para a semana, querido.