do meu ponto de vista antónio é nome de bêbedo
não vou pôr-me com
ponderações inúteis sobre as causas do amor ao álcool nem com o discurso barato
de quem põe nesse amor o desamor à vida a vida é um ciclo de copos e ressacas e
tudo o mais encaixa
logo de manhãzinha a
maria perguntou-me por ele o antónio desta maneira tão doce então como vai o nosso bebedozinho?
foi carinho que me
encheu de inveja
é por isso que agora
oito e pouco da tarde e jantar por haver já vou tão antónio perdão assim de
bêbedo
estou a arranjar coragem
para telefonar à maria
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
.
Ainda escrevo 2012 em 2013. Lá para abril hei de acertar o passo, como se a vida recomeçasse na primavera. Talvez então continue, com menos apego ao barco e menos ódio aos seus barqueiros.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
ficção
"Por minha mãe, eu seria andré, que serve melhor em destino de macho. Malogrou-se, no entanto, a sua vontade e fiquei luís. O que, por si, nunca me desagradou, não obstante os lulus de quem já quis escarnecer e os luisinhos das amiguinhas que mais não foram. [...] Qualquer nome pode aproveitar a brincadeiras ingratas, eis um facto; e até se me deu em fortuna não me terem posto antónio."
O narrador de Um pinguim na garagem começa assim por se demarcar de mim. Teve o azar de não ser andré, mas ao menos não tem de carregar o nome antónio. Mas tramei-o: à distância de quase quatro anos creio que nunca estive tão autobiográfico. Só n'A decadência dos olfactos comecei a inventar.
O narrador de Um pinguim na garagem começa assim por se demarcar de mim. Teve o azar de não ser andré, mas ao menos não tem de carregar o nome antónio. Mas tramei-o: à distância de quase quatro anos creio que nunca estive tão autobiográfico. Só n'A decadência dos olfactos comecei a inventar.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
filosofia (1993)
Sous l'étoile, dans tes yeux,
On peut voir tout ce qu'on veut
Puisque tu es dans mes bras.
Hier, aujourd'hui tu es rêve,
Instant d'amour qui m'enchaîne
Et douleur qu'on n'oublie pas.
On peut voir tout ce qu'on veut
Puisque tu es dans mes bras.
Hier, aujourd'hui tu es rêve,
Instant d'amour qui m'enchaîne
Et douleur qu'on n'oublie pas.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
assim não
Com que afã, com que rotina
vais pesando as minhas faltas
em balança tão precisa
mas, enfim, tão pouco exacta.
Ah, como andas empenhada
no acerto da minha vida,
ignorando que acertá-la
é energia perdida...
Pensa: valerá a pena
levantar assim a casa,
nesta já quase certeza
de que o meu peito se atrasa?
Pensa no homem que te amou:
ele ainda vive em quem sou.
vais pesando as minhas faltas
em balança tão precisa
mas, enfim, tão pouco exacta.
Ah, como andas empenhada
no acerto da minha vida,
ignorando que acertá-la
é energia perdida...
Pensa: valerá a pena
levantar assim a casa,
nesta já quase certeza
de que o meu peito se atrasa?
Pensa no homem que te amou:
ele ainda vive em quem sou.
domingo, 24 de fevereiro de 2013
fecha a porta (1990)
Fecha a porta, que eu tenho muito medo
a este não saber onde me pôr;
diz adeus, diz que é tarde, diz que é cedo,
diz que nunca houve rosas nesta flor.
Sê sincera, não faças um segredo
de cada gesto; e quando enfim me for
de gastos sonhos sonhador azedo
esquece e fecha a porta, meu amor.
Não vês que assim faz frio para os dois,
tu aí tão incerta, eu sempre à espera,
tu sempre de antes, eu já tão depois?
Não vês de tanto nada tanta dor?
Se um dia nos sonhaste, então pondera,
esquece e fecha a porta, meu amor.
sábado, 23 de fevereiro de 2013
espuma (2005)
Eu sou daqueles que se tornam tardes
assim que o sol rasteja em nossas casas
e anoiteço tão fácil de guardar-te
como o roubo do sol às alvoradas.
Tempero no luar da tua carne
os versos ancestrais da minha calma,
que apesar dos relâmpagos que trazes
és no crepúsculo das minhas asas.
Na tua boca moro o sentimento
que sempre coube no porvir do beijo
e cabe sempre neste fogo lento.
E sorrio de todas as partidas:
os amantes perenes morrem cedo
como espuma na praia de algum dia.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
água (1995)
Durante algum tempo
lembraste-me água. Mesmo quando chovia sobre
as rosas sobre a terra em que um dia nasci.
E adormecia no teu nome
palavras que o tempo guardava
e devolvia pela manhã.
Concha de minha mão no teu seio
era eterna, sei lá porquê.
E porque não fosse meu, sémen vertido no teu ventre
era por antífrase infecundo.
Mas não compreendeste
a inquietude e a morte dos instantes,
a importância dos sentidos em espera,
os tremores de mãos vazias.
Por isso, agora, quando chove,
se penso e se penso em ti
é para dizer:
«Vai chover para outro lado.»
lembraste-me água. Mesmo quando chovia sobre
as rosas sobre a terra em que um dia nasci.
E adormecia no teu nome
palavras que o tempo guardava
e devolvia pela manhã.
Concha de minha mão no teu seio
era eterna, sei lá porquê.
E porque não fosse meu, sémen vertido no teu ventre
era por antífrase infecundo.
Mas não compreendeste
a inquietude e a morte dos instantes,
a importância dos sentidos em espera,
os tremores de mãos vazias.
Por isso, agora, quando chove,
se penso e se penso em ti
é para dizer:
«Vai chover para outro lado.»
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
oide (1987)
Fatioide, guardachuvoide,
todo sapatoide pela rua abaixo.
Mais um humanoide.
Ah! no tempo em que a brasa
me ardia sob os pés...
Que é feito de mim?
todo sapatoide pela rua abaixo.
Mais um humanoide.
Ah! no tempo em que a brasa
me ardia sob os pés...
Que é feito de mim?
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
miúda (1995)
Tempo para amanhãs certos;
Em teus olhos suave-duros
Rumam barcas de futuro
Em viagens sem trajecto.
Sossega a alma, pequenina:
Assim vai a tua vida.
Em teus olhos suave-duros
Rumam barcas de futuro
Em viagens sem trajecto.
Sossega a alma, pequenina:
Assim vai a tua vida.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
domingo, 17 de fevereiro de 2013
café
Quando antes me perguntavas
bebes um café comigo?,
o café era a palavra
de me saberes teu amigo.
Quando agora me perguntas
queres beber um café?,
a vontade não é muita
e a amizade é o que é.
E tudo porque entretanto
fomos homem e mulher
que por isso deram tantos
outros nomes ao café.
bebes um café comigo?,
o café era a palavra
de me saberes teu amigo.
Quando agora me perguntas
queres beber um café?,
a vontade não é muita
e a amizade é o que é.
E tudo porque entretanto
fomos homem e mulher
que por isso deram tantos
outros nomes ao café.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Beatriz Talegón
Beatriz Talegón e a retórica, a grande retórica na acepção que dela tinha Aristóteles. Ethos, pathos e logos. Sobretudo logos. Sempre logos. Imprescindivelmente logos, para que pensemos.
Gostava de ter visto a cara dos barões ante a coragem desta mulher. Devem ter ficado com as orelhas em brasa.
Entretanto, já aparece quem ataque a mulher crendo atacar a mensagem: ai que a Beatriz apenas procura protagonismo, ai que o seu passado e o seu presente não se coadunam com a mensagem.
É a mensagem, estúpidos.
metamorfose
durante
muito tempo eu não te quis bem
com todos os artifícios que me ensinaram construí uma gaiola
em nosso redor e chamei-lhe amor
um dia aproveitaste uma porta aberta
e eu tive de procurar nos mesmos artifícios o teu regresso
embalde
que mais ainda voavas e mais do meu corpo rastejava
até aprender que o teu riso não é a minha perda
até aprender a alçar também eu as minhas asas
e ao meu voo chamar-lhe amor
com todos os artifícios que me ensinaram construí uma gaiola
em nosso redor e chamei-lhe amor
um dia aproveitaste uma porta aberta
e eu tive de procurar nos mesmos artifícios o teu regresso
embalde
que mais ainda voavas e mais do meu corpo rastejava
até aprender que o teu riso não é a minha perda
até aprender a alçar também eu as minhas asas
e ao meu voo chamar-lhe amor
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
deshoje
nunca
saberás
que em lisboa sem ti
hoje guardei ontem
e ontem penontem
e penontem antepenontem
e
que todos os dias sou deshoje
que em lisboa sem ti
hoje guardei ontem
e ontem penontem
e penontem antepenontem
e
que todos os dias sou deshoje
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