Tu criticas-me os dias, mas eu gosto
de avisos duros quando a voz é terna.
Tu olhas de soslaio e eu decoro
para lembrar à noite a tarde que eras.
Tu não sabes, sei eu, que em cada poro
da tua pele há mais palavras que estas;
ah!, tu nem desconfias, quase aposto,
das maravilhas que eu faria com elas.
Tu és mesmo esse quase de sol posto
que se demora em sombras no meu rosto
e habita a lágrima do desencontro.
Tu és quarto minguante sob a cama
de um corpo só para quem sempre te ama,
tu és acá do muro em que eu me escondo.
sexta-feira, 31 de maio de 2013
sábado, 25 de maio de 2013
quarta-feira, 22 de maio de 2013
esta palavra amor
Sei que às vezes abuso da
palavra amor - mas à
noite viajam sem bússola
idas sem volta; e há
rumos sem norte quando
na minha boca és tanto.
terça-feira, 21 de maio de 2013
.
De manhã despertou-me um sonho de ovos a estrelar. Era o BD impaciente, de um lado para o outro sobre o nosso chão de mosaico. O Barbinhas tinha mais à-vontade comigo: saltava da cama e voltava a pular-lhe para cima, fixava-me, latia-me ao ouvido. Já eram horas.
domingo, 19 de maio de 2013
de lado (1986)
de lado
os pés
cansados
deitados
pequenos
como tu
e como eu
e o que espera
porta fora
de lado
os pés
e o calor
nos teus pés
e ademais
o amor
está de lado
de lado
os pés
mas os teus
ensonados
amarrotados
encalados
encalhados
de lado como tu
de lado
os pés
e tu
e o que pensas
de mim
de lado eu
os pés
cansados
deitados
pequenos
como tu
e como eu
e o que espera
porta fora
de lado
os pés
e o calor
nos teus pés
e ademais
o amor
está de lado
de lado
os pés
mas os teus
ensonados
amarrotados
encalados
encalhados
de lado como tu
de lado
os pés
e tu
e o que pensas
de mim
de lado eu
sexta-feira, 17 de maio de 2013
quadro 63
Quando por sorte adormeço
em noites cheias de lua,
parece até que me esqueço
de que o adeus continua.
1995
terça-feira, 14 de maio de 2013
aqui (2000)
ao largo
sombra viscosa
da acumulação dos dias
lembrança desta luz
cicatriz inescapável
do amor intacto:
sabor à tua pele
que
o bico do melro
sem luta nem fracasso
continua amarelo
segunda-feira, 13 de maio de 2013
.
Lisboa é um mundo e o mundo um pouco maior que Lisboa, tinhas mesmo de vir ser feliz ao pé da minha porta?
sábado, 11 de maio de 2013
sexta-feira, 10 de maio de 2013
.
Esvaziado o último copo, o silêncio manteve-se. Mas vejam só, tanta noite! Algo resultou, não me venham com histórias.
domingo, 5 de maio de 2013
sábado, 4 de maio de 2013
nós os górdios (2000)
nós
os górdios
-----putrefactos
----------na poeira esventrada pelos ventos sáricos
----------sob a longa carícia do latido solar
-----suspensos
----------de esperas violentas
----------em silêncios zumbidos
-----prisioneiros
----------em violáceas vertigens
----------de espirais fugitivas
-----de facto
----------abutres da vida
nós os górdios
-----latejando
----------à superfície da sonolência
----------nos olhos do mundo
-----registando
----------de esconsos cansaços
----------a função humanóide
-----reciclando
----------desnortes de meus olhares
----------em boca fria de teus desejos
nós os górdios
-----os que crepitam
----------de enfados e se enfadam
----------de imprevistos
-----os que juntam
----------carcaças em redor do lento
----------estertor vespertino
-----os que desistem
----------de tudo sem desistir de nada
nós os górdios
-----que de óxido perene e micritude
----------cobrimos
----------o gume ambicioso
----------no acto exaltado
-----que omnivorazes do devir
----------predamos o que não
----------permaneceria
-----que na surdina
----------dos dias repetidos preparamos
----------o funeral de todos
----------os perigos
nós os górdios
ceptro-trono-coronados
hiperoculados no cume
da tua colina
garantimos que:
-----putrefactos
----------na poeira esventrada pelos ventos sáricos
----------sob a longa carícia do latido solar
-----suspensos
----------de esperas violentas
----------em silêncios zumbidos
-----prisioneiros
----------em violáceas vertigens
----------de espirais fugitivas
-----de facto
----------abutres da vida
nós os górdios
-----latejando
----------à superfície da sonolência
----------nos olhos do mundo
-----registando
----------de esconsos cansaços
----------a função humanóide
-----reciclando
----------desnortes de meus olhares
----------em boca fria de teus desejos
nós os górdios
-----os que crepitam
----------de enfados e se enfadam
----------de imprevistos
-----os que juntam
----------carcaças em redor do lento
----------estertor vespertino
-----os que desistem
----------de tudo sem desistir de nada
nós os górdios
-----que de óxido perene e micritude
----------cobrimos
----------o gume ambicioso
----------no acto exaltado
-----que omnivorazes do devir
----------predamos o que não
----------permaneceria
-----que na surdina
----------dos dias repetidos preparamos
----------o funeral de todos
----------os perigos
nós os górdios
ceptro-trono-coronados
hiperoculados no cume
da tua colina
garantimos que:
-----não há
----------cavalos na madrugada
-----de amor
----------em cortinas de vento o pensamento
----------não sangra
-----de esperas
----------sobrepostas os minutos
----------não são janelas
----------por chegar
-----não há
----------mãos dadas
----------dedos trocados
----------estrelas de espera
---------------ardendo nos braços
----------bocas passeadas
----------na língua das esperas
----------míticas lascívias
---------------salivando planetas
----------secretos carmins
----------no teu corpo transpirado
----------a semear de insónias
---------------a eternidade
-----não há lamparinas venéreas
----------que movimentem de acalantos
---------------os flamejos da memória
----------que te levem aos pináculos
---------------da vontade como quem
---------------desliza por si
----------que te encostem o sonho
---------------depois do sorriso
----------te pulverizem a fronteira
---------------antes do atrevimento
----------te ofereçam ao desejo
---------------o génio do impossível
---------------na orla do impensado
nós os górdios
ceptro-trono-coronados
hiperoculados no cume
da tua colina
sabemos que:
-----é vestigial a hipótese do tempo
----------no precipitado da tua
----------memória abandonada
-----são produto todas as perspectivas
----------da contínua escavação
----------na profunda noite inumada
-----significam os escolhos
---------------colididos da agida recta infatigável
----------ziguezagues retrocessos contornos
----------mais do mesmo
----------terra pedra breu
----------tanto do mesmo
-----acabarás como chegaste
----------verme anolftálmico
----------tacteando os túneis
----------do único percurso possível
----------no largo lento
----------desfilar de instantes
-----és a solidão
----------de um diamante negro
---------------só--
-----das flores e sua música és
----------um eco
---------------apenas longínquo
---------------abafado
---------------torto
---------------incompreensível
----------um frémito
---------------quase imperceptível
----------uma suspeita
---------------de frescura
---------------ao passares sob as raízes
nós os górdios
ceptro-trono-coronados
hiperoculados no cume
da tua colina
informamos que:
-----o teu rio é
----------de navegação paciente e inútil
----------de alcatrão e polímero
----------de margens paradas
---------------onde imenso
---------------o paralelipípedo de argamassa te perscruta
----------de moscas voejando
---------------teimosas no centro da tua pele
----------de longos trajectos
---------------que a urgência dos dejectos
---------------laboriosamente constrói
----------de fundos mergulhos
---------------onde a competência dos corsários te saqueia
-----o teu rio
----------adentra-te
---------------como a noite o dia
---------------quando a luz esmaece
----------conhece-te com
---------------a rotina o gesto
---------------a ponderação a calma
---------------o controlo a ousadia
--------------------de quem possui
----------suga-te na corrente
---------------como olhar de lado em rigidez de perfil
-----o teu rio poluto de intentos em eternidades acumuladas
----------não tem
---------------meandros
--------------------de azul e gozo
---------------donde por onde para onde
----------(o teu rio
----------poluto de ti)
nós os górdios
ceptro-trono-coronados
hiperoculados no cume
da tua colina
quinta-feira, 2 de maio de 2013
quarta-feira, 1 de maio de 2013
desabafo
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Pois é, eu gosto de pontivírgulas (e de os denominar assim: pontivírgulas). E de reticências. E, já agora, também utilizo pontos de interrogação. Que foleiro, não é?, que atávico. E gosto de parágrafos grandes; e, quando isso faz sentido, gosto de misturá-los com parágrafos pequenos. E acho que escrever diferente não é necessariamente escrever bem. E não gosto de sentir que o "escritor" está a gozar comigo, porque uma obra aberta não tem de ser uma brincadeira parva a que se atribui a arrogância de um ismo. Não gosto de 'caiem' e 'saiem' em vez de 'caem' e 'saem', nem de 'preciso falar contigo' em vez de 'preciso de falar contigo'.
Mais que tudo, gosto de uma história bem esgalhada. Para letreiros, já bastam os que sabemos.
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Pois é, eu gosto de pontivírgulas (e de os denominar assim: pontivírgulas). E de reticências. E, já agora, também utilizo pontos de interrogação. Que foleiro, não é?, que atávico. E gosto de parágrafos grandes; e, quando isso faz sentido, gosto de misturá-los com parágrafos pequenos. E acho que escrever diferente não é necessariamente escrever bem. E não gosto de sentir que o "escritor" está a gozar comigo, porque uma obra aberta não tem de ser uma brincadeira parva a que se atribui a arrogância de um ismo. Não gosto de 'caiem' e 'saiem' em vez de 'caem' e 'saem', nem de 'preciso falar contigo' em vez de 'preciso de falar contigo'.
Mais que tudo, gosto de uma história bem esgalhada. Para letreiros, já bastam os que sabemos.
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