terça-feira, 27 de agosto de 2013

.

"Fazer amor"? Sempre achei ridícula essa expressão, decalque do inglês. Ama-se e ponto. Os espanhóis evitam muitas vezes o anglicismo dizendo simplesmente "amar" - e eu nunca tive dificuldade, pelo contexto em que a palavra é utilizada, em perceber como.

sábado, 24 de agosto de 2013

o mais impotente dos meus modos

as mãos foram difíceis
quando as procurei como parecem
e mais difíceis ainda
porque só as encontrei onde me perdi

mas pior tem sido agora
este rasgar de horas nos teus olhos
e descobrir que tu és ainda
o mais impotente dos meus modos

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

não saiba a minha mãe (1988)

Anoiteceu.
O vento marulheiro
baloiça a chuva
e eu deixo-me embalar
no sussurro da velha árvore.
Segredei-lhe todo o dia
tantas coisas tão minhas...
e sob ela sempre
poalhou apenas.
(Não vão dizer à minha mãe,
que não me quer constipado).

A Maria há pouco
deu-me as boas noites
e chamou-me louco...
Eu ri muito
como se estivesse louco
e disse-lhe ao ouvido
um segredo nosso.
A Maria... moça amiga.
Maria, não digas à minha mãe
que me chamaste louco.

Agora saboreio
um cigarro apagado
(a árvore amiga,
parece que acinte,
sempre que o acendo
sempre que o apaga)
e escrevo estas coisas
num caderno molhado.
Não digam à minha mãe
que eu escrevo versos.

Enquanto isto vou pensando
que talvez... que talvez...
Não tenho a certeza,
mas neste resto de vida
tudo há-de correr
às mil maravilhas
e amanhã
talvez nem seja
talvez de novo!
Mas, Maria, não digas à minha mãe,
que não me quer indeciso.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

4. Amor escreve-se sem 'h' - Enrique Jardiel Poncela

autor: E. Jardiel Poncela
págs.: 336
ed.: Editorial Século
trad.; Manuel Neves
1945 (1928)
Em guerra pelo sempre tão volátil e variado interesse de Lady Sylvia Brums, Zambombo usa todos os estratagemas para a impressionar, incluindo o da simulação de um suicídio que se transforma quase em suicídio. E perante um vaivém constante contra a extinção do desejo, o leitor descobre, se ainda o não sabia, que se ama de igual modo em Madrid, Paris, Roterdão, Londres. Talvez, até, no recato de uma ilha deserta.

Enrique Jardiel Poncela morreu esquecido. Dramaturgo espanhol em pleno franquismo e com um gosto pelo absurdo em contracorrente, põe nesta romance a medida justa daquilo em que hoje se põe excesso: autorreferenciação, jogo de sons e conceitos, provocação, surpresa... Injusto é o seu humor, que me fez gargalhar mais do que nestes dias devia.

A obra em papel - encontrei-a num alfarrábio perto de mim e custou-me 50 cêntimos. Em formato digital e no castelhano original, talvez a alguns custe menos: como o autor é morto há tanto que a obra pertence a todos, encontra-se na rede e gratuito numa caterva de páginas.





sexta-feira, 2 de agosto de 2013

quadra 64

Nunca sei quando começa,
nunca ao certo quando acaba,
mas é séria esta promessa
que se chama madrugada.