segunda-feira, 2 de setembro de 2013

5. Dia de anos - João de Deus

Com que então caiu na asneira
De fazer na quinta-feira
Vinte e seis anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse…
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!
 
Não sei quem foi que me disse
Que fez  a mesma tolice
Aqui o ano passado…
Agora o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo? Coitado!
 
Não faça tal; porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa; que em suma
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho.
 
Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois se se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los, queira ou não queira!
 
--------------------
 
Dei com esta singela e deliciosa brincadeira de João de Deus (1830-1896) numa pequena selecta literária, tinha eu quinze anos; e ainda hoje é uma das minhas preferidas deste poeta algarvio que, com um sentido de humor único, critica um acontecimento inevitável como se fosse um acto a evitar por esse bicho que, tantas vezes distraído, se julga dono do tempo e do mundo.
 
Escusado será dizer que a aproveitei inúmeras vezes para com, esta ou aquela alteração nas primeira e segunda estrofes, e com os devidos acertos métricos, presentear este ou aquele aniversariante. Por exemplo: "Com que então caiu na asneira / De fazer segunda-feira / Quarenta e quatro anos! Tola! / Ainda se os desfizesse... / Mas fazê-los não parece / De quem bate bem da bola! // Não sei quem foi que me disse / Que fez a mesma tolice / Aqui o ano passado... / Agora o que vem, aposto, / Como lhe tomou o gosto, / Que faz o mesmo? Cuidado! ............"
 
 
 

Sem comentários:

Enviar um comentário