sexta-feira, 31 de outubro de 2014

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De quanto tempo precisa o homem para reconhecer o que é óbvio! De quanto tempo para afastar um pouco a máscara dos seus interesses mesquinhos...

terça-feira, 28 de outubro de 2014

o valor da coisa


"[...] importa não esquecer que a Autora na data da operação já tinha 50 anos e dois filhos, isto é, uma idade em que a sexualidade não tem a importância que assume em idades mais jovens, importância essa que vai diminuindo à medida que a idade avança."

E, deste modo, após dezanove anos em tribunais, uma mulher viu reduzido o valor da indemnização que anteriormente lhe fora concedida por lhe ser impossível ter relações sexuais depois de operada. Os juízes, dois "machos" e uma "fêmea" com mais de 50 anos (as aspas percebem-se à luz do que opinam) parecem acreditar piamente que sexo sem procriação é coisa de somenos, ainda mais quando já se pariu duas vezes. Subentendido está que a importância é de somenos sobretudo para as mulheres.

Gostaria, posto isto, de perguntar-lhes se o sexo também é menos valioso para homens ou mulheres jovens mas estéreis. Ou para casais jovens que têm de recorrer a técnicas de fertilização que prescindem do sexo. Ou para quem tem o azar de preferir pessoas do mesmo sexo.

Suponho que os meritíssimos decidam com base na própria experiência, uma vez que não pode haver estudo sério que conclua o mesmo que eles. Talvez tenham perdido algum do gosto que tinham pela coisa (chamo-a assim a partir de agora porque, enfim, no limite tem tão pouca importância que nem merece ser nomeada)... Ou perderam-no todo... Terão banido, até, a coisa dos seus dias; ou, se não, reduziram bastante o  número de vezes em que a praticam. E, claro, quando se reduz a frequência de um acontecimento também se diminui a sua qualidade: há algo mais lógico? Claro que não, eles são juízes.

Já agora, também gostaria que os meritíssimos me informassem se a coisa vale menos nos meus 47 anos do que nos longínquos 20. Aconselhar-me-iam a dirigir-me a um médico da especialidade para saber quanto vale a minha coisa? Ou se acaso sofro de alguma patologia por ainda gostar muito da coisa? Já agora, como se quantifica o gosto pela coisa?

Meritíssimo juízes, a que indemnização eu teria direito se alguém me retirasse a coisa?

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

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Sonhei que os veterinários eram obrigados a jurar Hipócrates e que tinham sido abolidos os quingravecos.

domingo, 19 de outubro de 2014

a incomensurabilidade das vidas


Daniel Oliveira é o escandalizado interveniente do programa 'Eixo do Mal' que há dias descarregou a sua diarreia verbal sobre todos aqueles que defenderam Excalibur, o cão recentemente assassinado em Espanha.

Espanha tinha meios suficientes para ter posto o animal de quarentena e investigado a hipótese de ele ser portador do vírus ébola. Espanha também perdeu uma oportunidade de tentar perceber se o vírus se consegue alojar e desenvolver em cães e, desse modo, ser um potencial perigo para o homem. Mas Espanha preferiu matar o familiar de Javier e Teresa, casal que não precisava de maior sofrimento do que aquele por que já passa.

Eu costumava concordar com Daniel Oliveira noutras questões. E concordo. Só que o seu antropocentrismo/especismo já me levaram a retirar-lhe tempo de antena há uns tempos (sim, já teve outras intervenções do mesmo teor): não posso confiar em alguém que tem a atitude que ele tem para com os animais. Daniel Oliveira, o valor das vidas é incomensurável. E para mim, um tipo que põe o homem no centro de tudo e não tem respeito pela vida dos outros animais não é, simplesmente, um homem bom. Isso é coisa do século passado. O mundo evolui e, felizmente, as suas perplexidades são, cada vez mais, as perplexidades que trago de menino.