sábado, 29 de maio de 2021

mais um desmaio (carta para Jane)


São quatro da manhã, finais de maio,
sábado, mas os sábados
há muito são iguais,
costumo dar o nome de desmaio
a estes dias pacatos
antes dos que aí vêm, infernais.
Tantos nomes que inventas, meu amigo,
recordo que dizias
com o teu sorriso gordo,
mas dou-me conta de que não consigo
dar nome às mãos vazias
do rumo que traçavam no teu corpo.
Quando, como esta noite, me aventuro
no triste e fértil chão
de tudo o que perdi,
interrogo-me se este meu futuro
tinhas presente então,
se já me adivinhavas tão sem ti
na madrugada de mais um desmaio.

2 comentários:

  1. Gostei muito, Luís.
    Tem os teus temas: a dor da perda, a solidão e as recordações de tempos melhores.
    Reparei que os versos rimam, certamente não é por acaso.
    A poesia toca-me mais quando tem musicalidade. O como neste poema.
    Se fosse sensato dir-te-ia para não ficares acordado até às quatro da manhã. Mas o que é o juízo para dois pós modernos como nós?
    Continua a escrever e a enviar me os teus textos.
    Abraço

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