segunda-feira, 6 de novembro de 2023

quadra 113


Se lá fora venta e chove
cá dentro sou do que estou,
no quentinho do meu robe,
na lida do meu tricô.

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

quadra 112


Já só me importam, confesso,
o bom sentido, o bom passo:
se chegar – será sucesso,
se não – não será fracasso.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

quadra 111


No lugar onde me fiz
sou cadáver do que sou
quando o teu olhar me diz
que já não sou onde estou.

sábado, 9 de setembro de 2023

quadra 110


Quando vivia de quandos
quanto não vivia, quanto,
feito de espera e desmandos,
de hojes nada que ontens tanto.

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

primeiro café da tarde XLVII


é verdade     pá     estou sempre de copo na mão
e então?
é isso que te importuna ou sou eu?
todos os dias procuro
deseternizar-me     libertar a alma desta contínua
imortalidade          tento matar-me     pá
e não há exercício mais próximo desse do que este de estar
todo o dia de copo na mão

como eu em agosto


Há gente cuja palavra
já morre de ser palavra,
gente que à lua se acaba,
gente que ao sol se desgasta,

gente sempre a mais na mesa
e de adeus assaz pequeno,
gente que extingue a alma acesa
na alma do menor veneno,

há gente assim, desgentada
e transparente, sem rosto,
gente que não vale nada,
gente como eu em agosto.

segunda-feira, 24 de julho de 2023

primeiro café da tarde XLVI


Das vezes em que morri
a que mais me custou foi aquela
em que descobri que em ti morri
Que lancinante a minha presença
no momento em que me apunhalaste
que lancinante o punhal ter feito
parte da minha reconstrução
Pouco importa o que fui se pouco sou
se tu nem fazes ideia
de que nunca cheguei a matar-te

sábado, 24 de junho de 2023

quadra 109


Em jovem, fui um perigo
para aquele que era eu,
mas esse então inimigo
fez-se agora amigo meu.