quarta-feira, 30 de setembro de 2020

primeiro café da tarde XXIV


Quem me dera, amoriga, como tu
não me lembrar de nada, talvez dizer:
se as vidas bifurcam num par de meses
o que será delas num par de décadas...
Ao menos pudesse dizer que me lembro
de muito pouco, que só quando o azar
me esgaravata as memórias
ainda sofro a noite prolongada
que teve início na tua ausência.
Daria tudo para que no pouco do que me lembro
houvesse pouco mais do que este despertar sem remédio
do que uma pitada do teu sorriso a trinta de setembro,
do que um adeus.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

primeiro café da tarde XXIII


Setembro me assisa, a mim que estou
ora hilota em caterva de passados
ora caprichoso sem tempo.
Setembro foi outro monte
de pedras levantado,
setembro o regresso da pânria
ao sol mais fagueiro.




quarta-feira, 23 de setembro de 2020

primeiro café da tarde XXII


É-me subterrâneo o fim desde o dia
em que despertei e o outro morria,
quem sabe daí este ar sorridente
que é mais de saber-te que de contente.
Um pouco longínquo, eu sei, mas de mim,
das esperas descabidas que já tive,
de amanhãs para os quais eu nunca vim.
Mais uma tentativa de quem vive.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

primeiro café da tarde XXI



Tarde ou cedo o homem há de ser homem,
presa e predador das palavras e acima de tudo
mau. Tarde ou cedo, há de pisar o céu de alguém
sem querer saber de quem.
Tarde ou cedo a sua natureza hirudínea
há de secar o mais anódino que não lhe seja igual
apenas e porque não lhe seja igual.
Tarde ou cedo, querulante e falso,
não há de ser que não remenique
não há de estar que não chame ocupação
à alegria das hirondinas.
Tarde ou cedo, à parte vento, nostalgia e marte,
o homem há de ser homem.