domingo, 31 de julho de 2022

quadra 98


A minha verdade acaba
na garganta, isso que admira?
Se sou homem de palavra
tudo o que digo é mentira.

sábado, 30 de julho de 2022

quadra 97


Hoje que o outono se agrava
e me sei menos de cór
não estou tão bem como estava
mas sou bastante melhor.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

quadra 96


Não te corre mal o dia
porque nem sequer te corre:
"és", na tua hipocrisia,
mais morto do que quem morre.

quinta-feira, 28 de julho de 2022

quadra 95


Sem tardança mas sem pressa
fosse eu outro ao sol que espreita,
com a arte de quem começa
isento de quem se deita.

quarta-feira, 27 de julho de 2022

quadra 94


Homem, tu? Isso é difícil:
não és de palavra honesta,
comprovas em cada míssil
que nenhuma alma te resta.

quadra 93


Homem, tu??? Isso é difícil:
não és de palavra honesta,
comprovas em cada míssil
que o teu coração não presta.

terça-feira, 26 de julho de 2022

quadra 92



Saberes que a vida é curta
é o que mais te consterna
mas insistes na conduta
de vivê-la como eterna.

segunda-feira, 25 de julho de 2022

quadra 91

Deixa-te de listas breves
sobre as faltas que há em mim,
completa-as, faz o que deves,
descreve-me até ao fim.

quadra 90


Deixa-te de listas breves
sobre as faltas que há em mim,
completa-as, faz o que deves,
tritura-me até ao fim.

domingo, 24 de julho de 2022

quadra 89


Uma só moeda que sobre
no meu bolso ao fim do mês
é mais que as duas do pobre
que sofre por não ter três.

sábado, 23 de julho de 2022

quadra 88


Esquece o que ontem prometia,
busca o simples e o sorriso,
não sofras antes do dia
em que sofrer é preciso.

sexta-feira, 22 de julho de 2022

quadra 87


Com tais actos pões a nu
que não vales cinco paus:
pior, pior do que tu
só tu nos teus dias maus.

sábado, 16 de julho de 2022

inverno



O que de nós fez tanto nós
foi um acaso, a descoberta
de que não há bicho tão só
como o que aceita a morte certa.

Não é de estranhar, assim sendo,
que ainda se faça de espera
a rota cama sem remendo
onde fizemos primavera.

Mas já não tenho horas no pulso
nem telemóvel no costume
e até sorrio no decurso
deste sumiço que nos une.


domingo, 10 de julho de 2022

soneto do meu amor serôdio


Será que estou demasiado velho
para o homem homem que hoje me acredito,
ainda carne e osso, a ver se tenho
no teu regaço zelos de menino?

Será que, acreditando, não me aleijo,
fartando o sono de sonhar contigo,
com tamanhas saudades do teu beijo
como se isso não fosse tão perigo?

Será que ainda podes ser amiga
se o desfecho me espera e a barba é branca
e eu sou da noite quase todo o dia?

Será que estou cansado e isso te cansa?
Serás jovem de mais por culpa minha?
Serei pouco homem se a mulher é tanta?