quinta-feira, 24 de agosto de 2023

primeiro café da tarde XLVII


é verdade     pá     estou sempre de copo na mão
e então?
é isso que te importuna ou sou eu?
todos os dias procuro
deseternizar-me     libertar a alma desta contínua
imortalidade          tento matar-me     pá
e não há exercício mais próximo desse do que este de estar
todo o dia de copo na mão

como eu em agosto


Há gente cuja palavra
já morre de ser palavra,
gente que à lua se acaba,
gente que ao sol se desgasta,

gente sempre a mais na mesa
e de adeus assaz pequeno,
gente que extingue a alma acesa
na alma do menor veneno,

há gente assim, desgentada
e transparente, sem rosto,
gente que não vale nada,
gente como eu em agosto.