terça-feira, 22 de abril de 2008

sem-abrigo

.
quatro paredes um tecto
dois panos sujos de sono
cinco horas de amor inquieto
três cães a contar com o dono

a minha casa
é o teu coração quando se atrasa

domingo, 6 de abril de 2008

DORMINDO NO VALE (Rimbaud)

Era espuma de luz esse pequeno vale
Onde brilhava o sol sobre a montanha altiva,
Que em delírios de prata entre as ervas corria
Por um troço de verde um riacho a cantar.

E era um jovem soldado estendido na relva,
Banhando a nuca exposta nas águas de azul:
Já sem inquietações, a boca meio aberta,
Branco em seu leito verde encharcado de luz.

Qual criança doente, ele sonhava sorrindo
Ao colo do universo enquanto a tarde esfria:
Nos gladíolos os pés, finalmente dormia.

Não sentindo o perfume em redor, só dormindo:
Ao sol, tranquilo, a mão deitada sobre o peito,
e dois furos carmins no seu lado direito.