quarta-feira, 13 de agosto de 2025

primeiro café da tarde LIII — desagosto


 

em agosto não te chateio    por isso não te chateies


seria de bastante mentecapto aos nossos anos

eu não ter ainda entendido que em agosto

mudas de mundo e deixas em espera este mundo tão

                    desagostoso

que é o nosso e que por definição

te azucrina os miolos


quando regressares    no início do longo

                    desagosto

que te é pausa de vida e inverno por inteiro

pensarás como sempre sóis     e eu bem sei que sempre sóis


trezentos e trinta e quatro

    são os sóis por que se estende

    esta peça de teatro

    que já nada surpreende

cansa-me a tua presença

    antóneo    ah quanto me cansa

    quanto me deixa hipertensa

    essa tua pose mansa

não me dês cabo da mona

    se o bom senso to permite

    estou farta    assim não funciona

    estou para lá do limite

há já vinte anos que agosto

    é a ausência do teu rosto


e eu    maria    já não farei o que sempre fiz    pois de

existir persistir insistir

me cansei

desta vez hei de oferecer-te agosto depois de agosto

acabou-se o teu desagosto

é hora de eu desistir