sábado, 7 de maio de 2011

desasado

ainda no século xv     joam roiz de castel blanco escrevia assim     numa das quatro composições com que garcia de rezende lhe ofereceu a posteridade:

Senhora, partem tão tristes
Meus olhos, por vós, meu bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.
Tão tristes, tão saudosos,
Tão doentes da partida,
Tão cansados, tão chorosos,
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes os tristes,
Tão fora de esperar bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.


de entre os pré-camonianos são os versos que prefiro     pelo que têm de meu e de português sem os arrevesamentos que hoje vemos nos seus contemporâneos
diga-se para dizer tudo que vivesse eu na altura e por acaso os lesse teria morrido de inveja ou coisa pior

nunca fui grande aluno a português     creio que a minha nota maior foi um imerecido quatro-em-cinco no ciclo preparatório
mas lembro-me de     nos meus dezoito anos     me ter sido oferecida uma oportunidade para ultrapassar a timidez quando a professora me pediu que lesse em voz alta aqueles mesmíssimos versos

li-os como sempre os lia em casa     o sentimento fundo e o coração nas mãos de uma rapariga chamada susana que nunca veio a saber que nas mãos mo teve durante anos
a seguir fez-se um breve silêncio que não entendi logo mas que a reacção da professora logo justificou:

não era preciso ler assim antónio
agora tu joão     mas lê como gente grande

ali se acabava o meu teatro

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