terça-feira, 20 de abril de 2010

PALHA ENTRE AS ORELHAS


Mato o caracol que a distracção ignora  – e sinto-me culpado. Peço um salmão grelhado após três semanas de sem cadáveres à mesa – e sinto-me culpado. Vejo-me obrigado a entrar no Centro Comercial do Campo Pequeno – e sinto-me culpado: paredes meias com o meu passeio, tortura-se, mata-se, ovaciona-se o desempenho de pavões assassinos.

Há tempos, no ecrã, o único argumento de um desses vaidoselhos subia os degraus da tradição para maltratar cavalos, vacas, novilhos, touros. Corrijo: não foi maltratar o termo utilizado pelo penteadinho; era qualquer coisa mais próxima de vidas e mortes honrosas. Que sorte, a destes animais. E a dos outros que por lá haja, naquele seu mundo benfazejo: não imagino grandes escolhos na generalização da arte.

Mas de onde me saíram estes gajelhos? Seremos, eu e eles, da mesma fábrica? E se não, quem tem mais palha entre as orelhas?

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