Nesta enorme e colorida tela de entender o mundo que é a dos auto-denominados homens sapientes sapientes – o mesmo é dizer: sapientes a valer – tenho a tendência para me achar muito importante.
A tendência. Que, num cantinho da tela, há matizes – alguns dirão sombras – na breve pincelada que habito. Esses matizes também me fazem crer, e muito, e tanto, e cada vez mais, que nada tem menor importância do que eu. Não valho mais, por exemplo, do que este amigo de quatro patas que agora me pede para ir à rua: sou apenas um modo diferente de estar no mundo, sem nenhum tipo de acesso privilegiado ao que se queira denominar de verdade.
Sem esquecer que, como dizia o poeta, «não haver deus é um deus também», o não me dar eu a importância que não tenho implica que não precise de imaginar quaisquer deuses a amparar-me: estão ausentes das minhas ânsias a sua existência e a sua não-existência. Também implica não me ser nada incompreensível a crença de muita gente nesses deuses. E implica, enfim, que me interesse mais ir agora passear o meu amigo do que demandar conclusões impossíveis.
Nenhum fogo se alimente de mim, dê-se-me a importância que tenho.
*a propósito da polémica surgida com a publicação de «Caim», de José Saramago
Sem comentários:
Enviar um comentário