A gostos já ganhei medo
e é por isso que me escondo:
a minha vida é o enredo
das mortes que vou compondo.
domingo, 31 de janeiro de 2010
sábado, 30 de janeiro de 2010
quadra 13
Sem exigência nem pressa,
a minha espera deu nisto:
agora apenas te interessa
esquecer que ainda existo.
a minha espera deu nisto:
agora apenas te interessa
esquecer que ainda existo.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
quadra 11
Eu já nem sequer vou só
porque já nem sequer vou:
há muito que isto era pó
quando o aspirador passou.
porque já nem sequer vou:
há muito que isto era pó
quando o aspirador passou.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
domingo, 24 de janeiro de 2010
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Como se não fosse um solitário, sinto-me só. A memória nem sempre basta, esta noite sonhei que alguém ouvia o meu grito.
sábado, 23 de janeiro de 2010
consolo
O cão que vive comigo,
meu companheiro de há tanto,
já sabe que eu nunca digo
à noite o que ao dia canto.
Por isso, quando me deito
triste e em lágrima corrida,
encosta o corpo ao meu peito
a querer saber da vida.
Tenho uma ou duas ideias
mas ficam para depois:
na nossa almofada a meias
adormecemos os dois.
meu companheiro de há tanto,
já sabe que eu nunca digo
à noite o que ao dia canto.
Por isso, quando me deito
triste e em lágrima corrida,
encosta o corpo ao meu peito
a querer saber da vida.
Tenho uma ou duas ideias
mas ficam para depois:
na nossa almofada a meias
adormecemos os dois.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
.quadra 10
Por mais vida que recorde,
não vejo vida que preste.
Eu só tive medo à morte
no dia em que me quiseste.
não vejo vida que preste.
Eu só tive medo à morte
no dia em que me quiseste.
domingo, 17 de janeiro de 2010
quadra 9
Há quanto tempo, luís,
isto vem correndo mal...
Chumbas sempre, e ao que se diz,
já nem sequer vais a oral.
isto vem correndo mal...
Chumbas sempre, e ao que se diz,
já nem sequer vais a oral.
sábado, 16 de janeiro de 2010
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Talvez eu ande a pôr o mundo nas minhas caixas, como às vezes me censuram. Só é pena que me calhe tantas vezes a caixa certa.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
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Criança me disseram que beco não tem saída. Graúdo soube que tem: a entrada. E é beco sem saída este em que vivo e de cuja entrada me perdi.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
quadra 8
Do que aí vem não me lembro,
sou um simples cão rafeiro;
apenas sei que dezembro
ainda mora em janeiro.
sou um simples cão rafeiro;
apenas sei que dezembro
ainda mora em janeiro.
.quadro 7
Hás-de morrer, luís amigo,
por mais triste que te faças,
e até lá, viver contigo
é triste como o caraças.
por mais triste que te faças,
e até lá, viver contigo
é triste como o caraças.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
domingo, 10 de janeiro de 2010
quadra 5.
Eu, o cão e a tua ausência:
eis como em cama tão estreita
e contra toda a ciência
uma trindade se deita.
eis como em cama tão estreita
e contra toda a ciência
uma trindade se deita.
.quadra 4
Esta contínua embriaguez
não vai esconder-me o passado,
mas uma coisa já fez:
pôs-me o futuro de lado.
não vai esconder-me o passado,
mas uma coisa já fez:
pôs-me o futuro de lado.
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Esperar que neve em Lisboa, é viver. Esperar que neve na Lua, também. Mas aqui já começa a ser estranho: talvez não seja esta a minha vida.
sábado, 9 de janeiro de 2010
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
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Leitor digital com lombada e páginas vazias, para encher, folhear, substituir. E com sabor e cheiro a terra, em querendo eu. Quanto disse que era?
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
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1999: Os abutres em espera, o adeus do pai, o desconcertante desmoronamento da casa. Também a tua lágrima emboscada, Lhasa de Sela.
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Por que é que não te pões a pé?, pergunta a insónia. Por que é que não te deitas?, devolvo eu. Mas, então, e se esperássemos sentados?
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
trio ainda não desfeito (excerto não publicado - 2003)
Atrelar estes bichos – não sei de complicação maior. Não entendem como é difícil enganchar-lhes as trelas enquanto galopam de um lado para o outro e resvalam no soalho envernizado, de encontro às paredes, à procura da rua. Peço-lhes para se porem a jeito, mas nada: desconhecem a distância segura que lhes quero impor, apenas devoram a proximidade do passeio, a inacreditável inevitabilidade da saída. Mas tem de ser, meus amigos, a trela não é dispensável. Sempre em excesso de velocidade e de cabeça no seu mundeco, estes automobilistas não vêem dilema entre o risco no carro e a morte dos outros: toda a gente sabe que é proibidíssimo atravessar fora das passadeiras. Estádio moral do mais rasteiro, mas, enfim, a verdade é que o popó tem de estar em ordem, não é?, para se mostrar aos outros quem completo vive, e parecer diferente quem se jura igual, e evitar o suor dos transportes o maior da sua aldeia.
Já na rua, músculos retesados e cabeça esticada até ao chão, puxam-me pelos ziguezagues que nos unem ao jardim, farejam como aspiradores, raramente os dois no mesmo sentido, consoante os város cheiros que o vento vai oferecendo. Tão egoístas, estes sacaninhas incorrigiveis!, cruzando as trelas, atropelando os peões, sem atenção nenhuma aos difíceis malabarismos que eu tão arduamente aprendi – e que tentam repor a normalidade nesta viagem tantas vezes repetida. Parecem dois loucos no paraíso. Tão loucos que eu nem sonhar posso em deixar-me levar, fechar os olhos e segurar as trelas, puxem-me, puxem-me que já não aguento mais.
Mas loucos, loucos instalados, só quando os solto no jardim, elegantes e nervosos como corcéis, desobedientes como homens livres. Queira deus que não apareçam outros, porque se umas vezes dão em brincar, outras preferem o ataque. E seguem a sua vida feliz, como se levitassem ou fossem todo o mundo: saltam, cheiram, marcam, rebolam-se, fazem tudo a que têm direito.
Desembaraçam-se do peso nas tripas e o sebas põe-se a olhar para mim, muito atento, à espera do ritual: então, não apanhas? Porra!: esqueci-me da folha de jornal. Não, hoje não! Se fosse para apanhar, a câmara que pusesse sacos à disposição. E se não quisesse que eu cuidasse deles, que os amparasse em vez de os deixar a morrer na estrada. Não, não apanho nada. Não tenho energia para me baixar agora. Amanhã não é outro dia.
Os comentários dos peões, também..., olha aí, porco, palhaço, cabrão, cada vez mais fortes!; os palavrões e envios inconfessáveis que lhes atiro nas minhas respostas abafadas; a conclusão, malcriado!, olha-me a educação que este dá aos cães. Fungadelas de nariz, suspiros de impaciência, bruscas rouquidões por olás simpáticos, espadas nos olhares, dinamite nas bocas. Preferiam que eu não existisse, eu sei, o mal-estar instala-se; e nem sabem que já houve vidros rachados na porta de entrada, pontapés em carros mal estacionados ao longo da recta que aqui nos traz, honras sitiadas nos olhos que tantas vezes larguei... Se pudessem matavam-me, se pudessem até o sangue me bebiam, se pudessem, ah!, se pudessem...
Se pudessem: abreviavam-me.
Os cães, esses, marimbam-se para o mal-estar dos vizinhos, apenas rosnam e arreganham os dentes num aviso aos mais distraídos, que não é suposto estacarem nas redondezas, ainda para mais a olharem para nós com todo aquele atrevimento e ar de desaprovação, o que é suposto, isso sim, é evaporarem, eclipsarem, ala que se faz tarde, estamos aqui, estamos a experimentar-vos a carne. E continuam a sua vidinha, venha de lá chichi para as plantinhas, toma lá chichi que isto aqui é meu, rabo a dar a dar – assim é que eles são felizes!
Meia hora depois, volto a pôr-lhes as trelas. Engancho-as nos dorsais e regressamos. A dosti, algo cabisbaixa, olha às vezes para trás com os seus olhinhos tristonhos e a língua rosada de fora, como quem diz que não havia necessidade de abandonar a rua tão cedo. Ofereço-lhes toda a corda que posso, mas eles já só usam uma parte dela: vão juntinhos a mim ou deixam-se atrasar, porque assim é como estão mais longe de casa.
Agora tudo é transparente: têm-me posto imensas trelas, há sempre uma coleira a cintar-me o pescoço.
Já na rua, músculos retesados e cabeça esticada até ao chão, puxam-me pelos ziguezagues que nos unem ao jardim, farejam como aspiradores, raramente os dois no mesmo sentido, consoante os város cheiros que o vento vai oferecendo. Tão egoístas, estes sacaninhas incorrigiveis!, cruzando as trelas, atropelando os peões, sem atenção nenhuma aos difíceis malabarismos que eu tão arduamente aprendi – e que tentam repor a normalidade nesta viagem tantas vezes repetida. Parecem dois loucos no paraíso. Tão loucos que eu nem sonhar posso em deixar-me levar, fechar os olhos e segurar as trelas, puxem-me, puxem-me que já não aguento mais.
Mas loucos, loucos instalados, só quando os solto no jardim, elegantes e nervosos como corcéis, desobedientes como homens livres. Queira deus que não apareçam outros, porque se umas vezes dão em brincar, outras preferem o ataque. E seguem a sua vida feliz, como se levitassem ou fossem todo o mundo: saltam, cheiram, marcam, rebolam-se, fazem tudo a que têm direito.
Desembaraçam-se do peso nas tripas e o sebas põe-se a olhar para mim, muito atento, à espera do ritual: então, não apanhas? Porra!: esqueci-me da folha de jornal. Não, hoje não! Se fosse para apanhar, a câmara que pusesse sacos à disposição. E se não quisesse que eu cuidasse deles, que os amparasse em vez de os deixar a morrer na estrada. Não, não apanho nada. Não tenho energia para me baixar agora. Amanhã não é outro dia.
Os comentários dos peões, também..., olha aí, porco, palhaço, cabrão, cada vez mais fortes!; os palavrões e envios inconfessáveis que lhes atiro nas minhas respostas abafadas; a conclusão, malcriado!, olha-me a educação que este dá aos cães. Fungadelas de nariz, suspiros de impaciência, bruscas rouquidões por olás simpáticos, espadas nos olhares, dinamite nas bocas. Preferiam que eu não existisse, eu sei, o mal-estar instala-se; e nem sabem que já houve vidros rachados na porta de entrada, pontapés em carros mal estacionados ao longo da recta que aqui nos traz, honras sitiadas nos olhos que tantas vezes larguei... Se pudessem matavam-me, se pudessem até o sangue me bebiam, se pudessem, ah!, se pudessem...
Se pudessem: abreviavam-me.
Os cães, esses, marimbam-se para o mal-estar dos vizinhos, apenas rosnam e arreganham os dentes num aviso aos mais distraídos, que não é suposto estacarem nas redondezas, ainda para mais a olharem para nós com todo aquele atrevimento e ar de desaprovação, o que é suposto, isso sim, é evaporarem, eclipsarem, ala que se faz tarde, estamos aqui, estamos a experimentar-vos a carne. E continuam a sua vidinha, venha de lá chichi para as plantinhas, toma lá chichi que isto aqui é meu, rabo a dar a dar – assim é que eles são felizes!
Meia hora depois, volto a pôr-lhes as trelas. Engancho-as nos dorsais e regressamos. A dosti, algo cabisbaixa, olha às vezes para trás com os seus olhinhos tristonhos e a língua rosada de fora, como quem diz que não havia necessidade de abandonar a rua tão cedo. Ofereço-lhes toda a corda que posso, mas eles já só usam uma parte dela: vão juntinhos a mim ou deixam-se atrasar, porque assim é como estão mais longe de casa.
Agora tudo é transparente: têm-me posto imensas trelas, há sempre uma coleira a cintar-me o pescoço.
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