segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

por medo ao céu o voo abortado (IV)


O tempo não é sólido na sua totalidade,
há curvas fracturadas
para quem as procure,
ou por sorte as encontre,
onde se deixa atravessar
pelas mãos.

Nalgumas dessas viagens líquidas
que agora aprendi a fazer com elas
tenho por destino as tantas vezes que te chamei amor
e, ao lado desse, outro mais extenso e cheio de horizontes
desimpedidos
onde acreditei amar-te.
Digo acreditei porque não estou certo
de que tenha sido assim,
apenas  de que nunca estive mais próximo
de ter sido assim.

Quando regresso as mãos
ao estranho torpor destes dias
sei um pouco mais sobre a minha cobardia.
A tragédia maior
na minha vida foi
por medo ao céu o voo abortado.


Leceia, 18 fev 2019

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