segunda-feira, 28 de outubro de 2019

primeiro café da tarde VIII


Sou escultor e estou com a mosca. Talvez por isso
ao nascer do sol me ponha a enxotar poemas.
A verdade é que estou pelos cabelos
de trabalhar as tuas mãos.
E depois não é só.
Durante a noite inteira me acorrentaste
ao chão da cama com três fumos travessos,
e o fumo do meio trazia a loucura de um diastema.
Chegaste mesmo a sussurrar, num canto da nossa pele,
antóneo, estou afeita a ter-te
de soslaio.
Ah, ingrata!, estou exausto, pelos cabelos
de trabalhar as tuas mãos,
tão pelos cabelos que os olhos
nem são o mais impotente
dos meus modos,
tão exausto que não dares por nada
tem sido o corpo que damos
ao nosso nome.
Sim, estou exausto, demissionário, pelos cabelos,
estou por estes dias um poeta morrendo
de trabalhar as tuas mãos.

Sem comentários:

Enviar um comentário