terça-feira, 29 de julho de 2025

primeiro café da tarde LI — Lia e a contagem das sílabas


não é por     baquetas     os meus dedos tamborilarem o tampo da mesa

que a gata deixa de ser gata

no insolente âmbar dos seus olhos arde

o fascínio que prepara o rebate


tu não estás quem há pouco ronronava

    murmuro em decassílabo perfeito

    quando atento na cena e me distraio

    no labor digital de outro soneto

não há problema    ó lia    ultimamente

não sei porquê    malbaratei o ritmo

e a precisão das sílabas no verso

já só os dedos podem confirmar-ma


ela desvia o olhar pela primeira vez

e eu pela segunda liberto os dedos

um dois três quatro seis    sete oito dez

um dois três quatro    seis sete oi    to dez

em busca de outros modos e melhores

de ensinar o que nunca pratiquei


eis senão quando o rebate se dá

a unhada    o mio

    deixa-te disso    poeta malandro    estás a irritar-me

e o sangue mancha-me o último terceto

e a dor lancina-me os versos restantes


ah    ingrata    estragaste-me o soneto


estraguei-te o soneto?

mas tu não percebeste nada    antóneo?

a contagem era péssima e    à parte isso    o soneto

era uma porcaria





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