sábado, 15 de maio de 2010

SE AO MENOS ME TIVESSEM DADO MÚSICA...


Há trinta e tal anos já havia, pelo menos na Escola Preparatória Luís António Verney, o que muitos dizem ser um fenómeno recente só por lhe terem posto etiqueta: bullying. E era por isso que alguns de nós estavámos na aula bem antes do toque de entrada; e também era por isso que, mal dava o toque de saída, os mesmos batíamos asas por corredores menos estreitos e pousávamos nos recreios mais protegidos. Mas ginásticas à parte, nem sempre bem sucedidas, para me escapulir a murros, pontapés, cuspidelas e navalhadas, o que melhor recordo hoje é a minha ausência das manhãs desportivas, proibidas aos menos dotados, e essa outra árdua aprendizagem do desvio que me proporcionaram as aulas de Educação Musical.
Nestas últimas, e invariavelmente, dois ou três cowboys envolviam-se com outros tantos índios numa guerra de cadeiras, calhaus, canetas e cadernos. Tudo isto sob um inferno de gritos e utilizando os civis como escudos. A história foi-se repetindo nos dois anos do ciclo preparatório e com professoras diferentes, ambas velhinhas, que se esforçavam por conter a violência atrás da secretária ou do empoeirado orgãozinho de foles, visivelmente assustadas e incapazes para ameaças.
Não sei que mal teria vindo ao mundo se, em vez daquelas velhinhas, me tivesse calhado a moça de Mirandela que há dias se despiu para a Playboy e que, por isso, já não dá música aos miúdos. Mas desconfio que os guerreiros teriam fumado o cachimbo da paz. No que me toca, teria continuado a espreitar a revista como sempre espreitei. E talvez tivesse interiorizado melhor o encaixe das quintas justas. No menor dos intervalos, a minha guitarra seria, hoje, mais feliz.

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