segunda-feira, 2 de março de 2020

SONETO DO APÁTRIDA


Se por acaso fosses de Lisboa
e arranhasses os erres à francesa,
e arranjasses maneira, com certeza,
de perder sempre e sempre estar na boa;

se te poluísse o riu à beira-mar
e de friu tiritasses pelo inverno,
e fosses prá-frentex sem ser moderno,
homem comum de um modo peculiar;

se ali pelo Natal, envergonhado,
te visitasse um pouco de passado
nos olhos de um sobrinho do seu tiu;

bem melhor estarias do que agora,
de esperanças ancião que já não chora,
apátrida de um mundo que ruiu.


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