Eu O quê?
O Manuel. Morreu.
Largo o telefone, atiro-me ao chão, esperneio-me em silêncio, pareço um cão contente, mas não, nada disso, é mais outra culpa a ferroar-me.
Do outro lado da linha Joaquim?
Merda! O Manuel. Morreu. E agora? Se calhar tinha bastado uma palavra minha.
Esperneio-me em silêncio durante mais trinta segundos, estas lágrimas sempre foram surdas.
Pego de novo no telefone Não me diga que se suicidou...
Joaquim, tens de ser forte agora.
Devia ter-lhe telefonado. Ele não andava bem. Eu sabia que ele não andava bem. Raios me partam, que nunca estou em casa!
Joaquim, não vale a pena...
Ele tentou contactar comigo durante toda a semana. Discava, discava e nada. Deixou mensagens a pedir desculpa e eu nada: nunca devolvi as chamadas. Precisava de ajuda. Mas eu... eu sempre a fugir, não é? É este meu orgulho!
Vá lá, Joaquim, não te culpes. Já não o podes ajudar.
É o meu orgulho, é. É este meu orgulho estúpido. Nunca dou o braço a torcer. Nunca perdoo.
És orgulhoso, és. Sais ao teu pai.
E de que me vale agora? O meu melhor amigo...
Largo o telefone outra vez, atiro-me ao chão, esperneio-me, mais uma lágrima surda, outra culpa a ferroar-me.
Joaquim?
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Ainda não se tinham popularizado os telemóveis.
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