quarta-feira, 4 de julho de 2007

SÓ ME APETECE CHORAR E COMER TREMOÇOS

-----– Silva, uma cerveja! Estupidamente gelada.
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– E para mim!
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Entraram, pediram, sentaram-se. Chegam as cervejas estupidamente geladas:
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– Copos?
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– Para quê? Mas se tiver tremoços...
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Provam a cerveja.
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– Pois é...
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– Pois...
-----Silêncio e vêm os tremoços.


-----– Mas, então, deixa-me só acabar...
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– Sim, sim! Então, conta lá...
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– Isto foi há uns três meses. Lê.
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Puxa do telemóvel, procura uma mensagem, põe o outro a lê-la, engole meia dúzia de tremoços.
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Como podia esquecer... Quase ia morrendo! Não percebo...
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– Não era para mim.
 
– Não era para ti...
 
– Não. Enganou-se. Claro que lhe perguntei para quem era. Ela? Que era para uma amiga. «Brincadeiras nossas», disse.
 
– E não era verdade...
 
– Não. Não era verdade.
 
– Um gajo?
 
– Um gajo.
 
– E como descobriste?
 – Ontem... Olha.

 Arranca o telemóvel das mãos do outro, procura outra mensagem, passa-lhe de novo o telemóvel.
 
Amo-te, amo-te, amo-te!
 
– Só isto?
 
– Só. Enganou-se mais uma vez.
 
– Que foleirice, desculpa lá que te diga... E que vais fazer agora?
 
– Não sei... O que é que achas que devo fazer?
 
– Depende. Ainda gostas dela?
 
O cornudo fica pensativo. Despeja na goela o que sobra na garrafa e limpa a boca às costas da mão:
 
– Quero mais é que ela se foda!
 
– E então? Deixa-a partir...
 
– Deixo-a partir? Assim? Sem mais nem menos?
 
– Meu amigo... Homem e mulher sob o mesmo tecto? É contra natura...
 
– Mas...
 
– Passa a vez ao outro, tu já tens a tua conta. Ele que se foda também!
 
O cornudo levanta-se, deixa uma nota de cinco em cima da mesa, despede-se:
 
– É isso mesmo que vou fazer.
 
Começa a chover. O outro acende um cigarro.
 
– Silva! Uma caneca, agora. E tremoços, Silva, mais tremoços. Só me apetece chorar e comer tremoços.
 
E baixando a voz:
 – Acabo de me foder.

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