-----– E para mim!
-----Entraram, pediram, sentaram-se. Chegam as cervejas estupidamente geladas:
-----– Copos?
-----– Para quê? Mas se tiver tremoços...
-----Provam a cerveja.
-----– Pois é...
-----– Pois...
-----Silêncio e vêm os tremoços.
-----– Mas, então, deixa-me só acabar...
-----– Sim, sim! Então, conta lá...
-----– Isto foi há uns três meses. Lê.
-----Puxa do telemóvel, procura uma mensagem, põe o outro a lê-la, engole meia dúzia de tremoços.
-----– Como podia esquecer... Quase ia morrendo! Não percebo...
-----– Não era para mim.
– Não era para ti...
– Não. Enganou-se. Claro que lhe perguntei para quem era. Ela? Que era para uma amiga. «Brincadeiras nossas», disse.
– E não era verdade...
– Não. Não era verdade.
– Um gajo?
– Um gajo.
– E como descobriste?
– Ontem... Olha.
Arranca o telemóvel das mãos do outro, procura outra mensagem, passa-lhe de novo o telemóvel.
– Amo-te, amo-te, amo-te!
– Só isto?
– Só. Enganou-se mais uma vez.
– Que foleirice, desculpa lá que te diga... E que vais fazer agora?
– Não sei... O que é que achas que devo fazer?
– Depende. Ainda gostas dela?
O cornudo fica pensativo. Despeja na goela o que sobra na garrafa e limpa a boca às costas da mão:
– Quero mais é que ela se foda!
– E então? Deixa-a partir...
– Deixo-a partir? Assim? Sem mais nem menos?
– Meu amigo... Homem e mulher sob o mesmo tecto? É contra natura...
– Mas...
– Passa a vez ao outro, tu já tens a tua conta. Ele que se foda também!
O cornudo levanta-se, deixa uma nota de cinco em cima da mesa, despede-se:
– É isso mesmo que vou fazer.
Começa a chover. O outro acende um cigarro.
– Silva! Uma caneca, agora. E tremoços, Silva, mais tremoços. Só me apetece chorar e comer tremoços.
E baixando a voz:
– Acabo de me foder.
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