terça-feira, 31 de julho de 2007

o meu soneto de Arvers


De amor guardo um segredo, um mistério na vida,
tão perene é a hora em que nos conhecemos.
Não posso querer mais: o sonho em que lho diga
há-de ser o pior de entre os meus pesadelos.

Estarei sempre só nesta viagem sofrida
porque estar ao seu lado é todo o meu desejo.
E quando enfim chegar o meu último dia
nem saberá que foi demasiado cedo.

É doce o gesto, é terno o olhar que ela oferece
ao longo do caminho... E porém desconhece
o murmúrio de amor que a minha espera traz;

fiel à sua escolha, em seu dever austera,
destes versos dirá, que apenas falam dela:
«Quem é esta mulher?» E não compreenderá.

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Mon âme a son secret, ma vie a son mystère:
Un amour éternel en un moment conçu.
Le mal est sans espoir, aussi j’ai dû le taire,
Et celle qui l’a fait n’en a jamais rien su.

Hélas ! j’aurai passé près d’elle inaperçu,
Toujours à ses côtés, et pourtant solitaire,
Et j’aurai jusqu’au bout fait mon temps sur la terre,
N’osant rien demander et n’ayant rien reçu.

Pour elle, quoique Dieu l’ait faite douce et tendre,
Elle ira son chemin, distraite, et sans entendre
Ce murmure d’amour élevé sur ses pas;

A l’austère devoir, pieusement fidèle,
Elle dira, lisant ces vers tout remplis d’elle:
" Quelle est donc cette femme ?" et ne comprendra pas.


....................................................................Félix Arvers (1806-1850)

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