quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

soneto ancestral


um vórtice de febre me devora
às vezes     um imenso mar de cinza
que esbate os tímpanos     que grita ao rasto
da minha pele entre algas de silêncio

uma náusea inquieta que me afunda
um dilúvio de plástico e alcatrão
que as fronteiras desfaz     que cega as vozes
na densidade destes peixes podres

sorri-me     então     um vago tiritar
um saber e de cór as cefaleias
da côr     essas que esgueiram em camisa
por entre as horas     os invernos todos

quando assim acontece     tudo é dentro
e quando não     é porque tudo é fora

                                     Lisboa, 17.09.2010

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