O silêncio do mar
brama um juízo infinito,
mais concentrado que o de um cântaro,
mais implacável que duas gotas
quer aproxime o horizonte quer nos entregue
a morte azul das medusas
as nossas suspeitas não o deixam
o mar escuta como um surdo
é insensível como um deus
e sobrevive aos sobreviventes
Nunca saberei o que dele espero
nem o conjuro que deixa nos meus artelhos
mas quando estes olhos se cansam de ladrilhos
e esperam entre a planície e as colinas
ou em ruas que se fecham sobre mais ruas
então, sim, náufrago me sinto e só o mar
pode salvar-me
Para Qh.,
traição a 'El silencio del mar'
(Mario Benedetti),
Casarão e 2021, 11 de janeiro
Sem comentários:
Enviar um comentário