quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

o silêncio do mar (Mario Benedetti)

O silêncio do mar
brama um juízo infinito,
mais concentrado que o de um cântaro,
mais implacável que duas gotas

quer aproxime o horizonte quer nos entregue
a morte azul das medusas
as nossas suspeitas não o deixam

o mar escuta como um surdo
é insensível como um deus
e sobrevive aos sobreviventes

Nunca saberei o que dele espero
nem o conjuro que deixa nos meus artelhos
mas quando estes olhos se cansam de ladrilhos
e esperam entre a planície e as colinas
ou em ruas que se fecham sobre mais ruas
então, sim, náufrago me sinto e só o mar
pode salvar-me

                                                            Para Qh.,
                                                            traição a 'El silencio del mar' 
                                                            (Mario Benedetti), 
                                                            Casarão e 2021, 11 de janeiro

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