do cérebro à misericórdia
do paladar ao vale do desejo
quando me dizes alma ajuda-me
a minha comoção visita a angústia
e até o próprio ar é vulnerável
meu irmão corpo no trabalho pões
músculo e estômago também os nervos
rins e brônquios também o diafragma
quando me dizes alma ajuda-me
sei que estás condenado que és matéria
e a matéria é propensa a desfiar-se
meu irmão corpo sei-te bem
fui hóspede e anfitriã das tuas dores
rampa modesta do teu sexo ávido
quando me pedes alma ajuda-me
sinto que o frio me rebaixa
que magia e doçura se me vão
meu irmão corpo tu és tão fugaz
conjuntural efémero brevíssimo
imóvel por efeito de um arquejo
e eu que tenho por uso ser a vida
acabarei estreitando os teus ossinhos
alma incompleta sem as tuas vísceras
Para Qh,
traição a 'Desde el alma' (Mario Benedetti),
Casarão e 2021, 11 de janeiro
Sem comentários:
Enviar um comentário