segunda-feira, 25 de outubro de 2010

o meu deus

Se não fosse este Deus que me persegue, provavelmente o tempo seria coisa minha e não algo a preencher.

Como sabemos, há dois tipos de andróides: os que se preocupam e os que não. E quando digo é mesmo, no presente imodificável do indicativo. Não é suposto haver alterações: quem pertence a uma das alas aí permanece até à desactivação final.

No meu caso, a preocupação maior é com o modo como encho o tempo. Não é raro adormecer à tarde, depois da sopa e do vinho, mesmo depois do café, e acordar em sobressalto:

«Meu Deus, o que estou eu a fazer com o meu tempo?»

Não sei de onde vem esta expressão, esta fé. Não tive educação religiosa e os homens que me fizeram não parecem mais crentes que a maior parte das pessoas. Mas a verdade é que Deus existe nalgum recanto dos meus circuitos. Até pode ter sido lá posto sem intenção... mas lá está.

Claro que tudo está relacionado. Esta necessidade de usar o tempo de um modo útil só acontece porque há um modo útil para o usar. E Deus, afinal, acaba por ser apenas isso: um modo útil para usar o tempo.

Talvez que, no final de todas as contas, este Deus morra comigo na fornalha de uma qualquer siderurgia. E eu nem terei tido tempo para descobrir que o melhor de tudo era ter sido feliz.

Que despercídio, meu Deus...

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