A mãe está a recuperar bem mas ainda não sabemos se precisará de fazer quimioterapia: os resultados dos exames só chegam no dia 26.
Parece muito cansada para algum dia voltar a trabalhar como antes. As últimas notícias não são boas: quando, aqui há uns anos, estava prestes a reformar-se, aumentaram a idade da reforma para os 65; agora que tem quase 64, dizem que a partir do fim do ano a idade da reforma passa para os 67.
Tenho-me esquecido de te dizer que, desde a tua partida, o Bê-Dê prefere estar em casa dela. Talvez nesta nossa lhe falte alguém que organize o espaço e o tempo. Tu eras óptimo nisso. E a mãe também.
Tenho jogado um pouco mais de xadrez - lembras-te?, aquela coisa que às vezes eu punha junto de ti, num canto do sofá, aos quadradinhos pretos e brancos e com muitas pecinhas soltas - só que no computador. Não sou grande coisa. Gosto de pensar que um bom jogador de xadrez tem de ser inteligente mas que uma pessoa inteligente pode não jogar bem xadrez.
Às vezes corro até uma livraria que me permita folhear. Perdi muito do gosto antigo e, do que vou lendo, parece-me que a nova geração de autores é boa mas empolada na quantidade e na qualidade.
No fim do mês, estará pronto o nosso segundo romance. Tu sabes, neste não entram cãozinhos como no primeiro, onde tu e a Bonita estavam entre as personagens principais. Mas digo-te agora em segredo que o seguinte já está guardadinho na gaveta e tem um cãozinho quase tão giro e meigo como tu.
Não te esqueço, meu amor.
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