sexta-feira, 12 de julho de 2019

primeiro café da tarde III

Havia, como há, que ser acrítico
para traduzir o coração.
Mais confiante do que agora,
em jovem fazia o trabalho em cima da mesa
com a ajuda de meia dúzia de glossários e outra meia
de rudimentos gramaticais.

Mas não tinha, como não tenho, competência.
É óbvio que neste tão pouco saber de quase nada
ainda não descobrira a perene
intraduzibilidade cardíaca.

Já nem recordo se ao cardiograma inútil
e imperfeito
lhe chamava poema,
se ao percurso da caneta
sobre a sua espera.

Só hoje vislumbro que o poema é sempre
a inesperada arritmia do sol ao nascer.

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