domingo, 28 de julho de 2019

SONETO DO CHICORONHO

Cristo-Rei Lubango
Imagem Wikipedia
O puto chicoronho - eu já nem sei
o tempo há que isso foi. Sei todavia
do seu costume em acabar o dia
com dois paus imitando o Cristo-Rei.

Descalço no quintal, junto à capoeira,
alheio sempre à chuva e à cacimba,
com um fio os malcruza, o fio ainda
que usa para ordenar a vida inteira.

Pudesse ver-me quem pudesse vê-lo:
mora já o doutor da mula ruça
nesse canhestro ruço de mau pêlo
que sobre o seu brinquedo se debruça.

Resumir-me-á quem me quiser num esboço:
«Ó homem, tu foi tudo a traço grosso.»

                                                                                                            Leceia e 2017

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