segunda-feira, 8 de julho de 2019

SONETO DA MINHA FÉ INESPERADA

(Para Luís Jardim, 1947-2013)

Cheio de pressa em perceber ao certo
se havia solução para o teu mal,
eu teria acorrido ao hospital
onde entraste de urgência, aqui tão perto.

A mão na tua, para ver que tal
ias da operação a peito aberto,
do cirurgião teria descoberto
que a morte, no teu caso, era o normal.

E em pranto junto à cama derradeira
onde convalescias do conserto
da tua velha aorta rebentada,

dir-te-ia então: "Talvez desta maneira
Deus e tu se conheçam", e, ao dizer-to,
quão grande a minha fé inesperada.

                                                                                                      Lisboa e 2014

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