sexta-feira, 1 de novembro de 2019

soneto pubentíssimo II

Botticelli: O nascimento de Vénus 
Ontem ainda
estavas aqui,
linda, tão linda,
ao pé de mim.

Mas na ânsia infinda
cheio de ti,
não entendi
que a noite finda.

Agora, só,
choro a lembrança,
crio a ilusão.

E tenho dó
da sem-razão
que é ter esperança.

                                                                                         1978*


*Agora que chamo sonetos a sonetilhos e quejandos, este é de facto o mais antigo dos meus sonetos sobreviventes. Tinha eu 10 ou 11 anos e acabava de conhecer Afrodite num livro de História comprado a alfarrabista. Entretanto, a palavra 'linda', da primeira quadra, foi caindo bastante no meu dicionário literário. A segunda quadra sofreu um pequeno ajuste pouco depois e já não me recordo daquela que a antecedeu. Quanto aos tercetos, torço o nariz à rima pobre, de que hoje fujo a sete pés. A mantê-la, a última estrofe merecia um bom retoque. Mas para que há de um homem com mais de meio século alterar os sonhos da criança que foi?

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