sexta-feira, 6 de novembro de 2020

piccolino

 


«Se conheço bem o meu senhor, ele não poderá passar muito tempo sem o seu anão». Quem o diz é o próprio anão, que vai descrevendo no seu diário o ódio e o nojo que sente pela espécie humana, incluindo ele próprio e os outros anões. No fundo, é o desprezo pela vulnerabilidade que perpassa este grande livro de Pär Lagerkvist (1891-1974).

Num dos antigos principados da actual Itália e numa época do Renascimento onde grassavam a fome, a guerra e a peste, o anão Piccolino é a personificação do mal. A publicação do livro em 1944 e o nosso próprio auto-conhecimento levam-nos a perceber que esse mal é intemporal. O mal é intrínseco à espécie humana.

Com Piccolino percebemos como cada um de nós tem a tendência, por mais longínqua que nos pareça, para comparar e catalogar. Para odiar o melhor porque é melhor. Para odiar o pior porque é pior. Para odiar o igual porque nos repete. Quem não tem um Piccolino dentro de si? Devemos estar sempre vigilantes para que ele não se manifeste.



O Anão
Pär Lagerkvist
Trad.: João Pedro de Andrade (original de 1944: Dvärgen)
Ed.: Antígona

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