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O cão que toda a vida acorrentado,
a rosa que hoje à noite assassinada,
a pomba moribunda que na estrada,
o deus que sem futuro nem passado,
o grito súbito que desprezado,
a mão que de verdugos decepada,
a lágrima que a meio da piada,
o verso que na estrofe sem cuidado,
a vítima que há muito amortalhada,
o beijo que dos beijos desgastado,
a cabeça que à espera de almofada,
o ex-abrigo que em ruínas ao meu lado,
este homem de ambições que desde sempre
tem sido aos vossos olhos transparente.
Leceia e 2015
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