sexta-feira, 23 de agosto de 2019

SONETO DOS TRANSPARENTES

Imagem Wikipedia















O cão que toda a vida acorrentado,
a rosa que hoje à noite assassinada,
a pomba moribunda que na estrada,
o deus que sem futuro nem passado,

o grito súbito que desprezado,
a mão que de verdugos decepada,
a lágrima que a meio da piada,
o verso que na estrofe sem cuidado,

a vítima que há muito amortalhada,
o beijo que dos beijos desgastado,
a cabeça que à espera de almofada,
o ex-abrigo que em ruínas ao meu lado,

este homem de ambições que desde sempre
tem sido aos vossos olhos transparente.

                                                  Leceia e 2015

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