sábado, 17 de agosto de 2019

SONETO DO CÃO ACORRENTADO

Imagem Canal Ciências Criminais











Black arrasta a corrente à procura de um naco
de céu caído. Em vão. Apenas morde,
neste tão derradeiro ano disto que é morte,
os repisados vãos do seu metro quadrado.

Passa os dias assim apesar de cansado
de outros dias assim apesar da má sorte
que lhe impõe a renúncia apesar do transporte
aos cuidados da mãe apesar de passados.

Um minuto à tardinha, o carcereiro vem
renovar a ração, saber da água também,
tratar da merda no ar que chateia o vizinho.

Black quer-lhe bem. Pele e osso, a cabeça vergada,
fica a vê-lo partir e nunca pede nada,
aprisionado já no seu próprio latido.

                                                                  Leceia e 2015

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