domingo, 21 de novembro de 2010

as desculpas pedem-se

há tempos ouvia-se muito em coimbra a sentença     as desculpas não se pedem     evitam-se

entretanto     e ainda em dias que por lá passava     senti que a frase foi morrendo
para meu contentamento     que por várias razões sempre a detestei e que     pelas mesmas entre mais     nunca a usei
primeiro     porque acho que é irritantemente simplista:          as desculpas são para se pedir    sim     à parte essa carga judaico-cristã que a palavra exibe e mal se vislumbra          e o que teoricamente se poderia aconselhar a evitar não são as desculpas em si mas os actos que a elas conduzem
segundo     porque sempre me era dirigida a invectiva por toda e qualquer desculpa que pedisse     desde a que antecedia uma simples interrupção de marcha alheia até à que resultava de um acto menos... desculpável
e terceiro     por ser uma frase tão desapegada:     é demasiado fácil e até algo desonesto coroar de evitabilidade o erro cometido

ora     acontece que      acreditando extinta a minha inimiga     ouvi-a uma boa meia dúzia de vezes neste último ano     agora aqui por lisboa
e mais uma vez em situações que me põem culpa e me atrevem ao pedido inútil

todos sabemos que a culpa não se desculpa     que se alguém a pudesse desculpar seria o próprio que a sente
por isso    amigos e não só     na próxima vez em que eu vos fizer o ultrajante pedido     entendei apenas:     estarei confessando que preferiria não vos ter magoado
e respondei com um não aceito     para serdes sinceros
ou com um aceito     para serdes simpáticos
ou     melhor ainda     com a ciência do silêncio

mas     as desculpas não se pedem     evitam-se          por favor...
tamanhos sois?

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