não lhe mandei espetar as orelhas como costumam fazer aos dobermann e era o bicho mais carente e meigo que já tive em casa
no final da vida deixava-a à solta na rua: embora a sua raça pudesse assustar alguns bastavam dois segundos de atenção para perceber que gastava toda a força na difícil sedução do ar
assim caminhava sempre um pouco atrás de mim e do barbas que abrandávamos o passo por entre a urgência dos cheiros
depois da sua partida e por mais de uma semana o barbas ia ao meu lado e parava de vez em quando olhando para trás olhando para mim a bonita onde está a bonita?
vinham-me as lágrimas aos olhos e dava por mim a explicar-lhe que já não podíamos esperar pela bonita
com o tempo a vida foi esquecendo a morte e ele foi deixando de perguntar pela amiga embora eu tenha a certeza de que ainda a reconheceria que nos seus bons sonhos decerto a tem reencontrado
quem me dera assim
não arrastar as minhas perdas pelo chão dos séculos
não ser de tão morto por quem parte tão morto para quem chega
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