domingo, 8 de julho de 2012

o muro (1990)


Eu não sei muito sobre as causas
das coisas.
Aprendi a prever a noite
quando o sol se inclina por trás da minha janela
e pouco mais.
O dia, nunca o vejo nascer:
o meu ser nocturno não tem ânsias de luz.
À sombra do muro que me cerca
e por trás das frestras que o tempo abriu
passo muitas horas da minha vida
a contar as horas que a rotina gasta.

Nunca passei nenhuma fronteira
porque sempre houve luar
e eu nunca trago identificação.
Por isso fico onde estou e ninguém me tente;
já estou farto de partir a alma
em loucas correrias e tropeções
por caminhos acidentados
que me levam a lugar nenhum,
que é o ponto de partida.
Quem quiser, que vá sozinho.
Eu fico aqui, a tapar os buracos.

----------------------------------------Lisboa e 1990

Sem comentários:

Enviar um comentário