sábado, 31 de outubro de 2020

primeiro café da tarde XXXII


Corria o ano de mil novecentos e noventa e quatro,
limpava-se longamente a estátua do marquês e eu
endeusava um par de mulheres.
Nesse tempo era costume essa minha tendência, ninguém
era tão jovem, excessivo, prometeico como eu,
havia mais morte do que hoje no meu corpo de ontem
e, como é óbvio, mais sonho.

Era o ano em que se limpava longamente o marquês
e em várias camas amor embalava,
Vénus partia com o olhar de quem chegasse
Afrodite chegava com a certeza de quem partisse.
Eu? Eu limitava-me a inventar o tempo,
subtil arrogante como os bons xadrezistas.

No tabuleiro do ano em que se limpava longamente
a estátua do marquês,
sessenta e quatro casas para duas deusas,
nenhuma para mim.

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