quarta-feira, 10 de abril de 2013

7. "Um Pinguim na Garagem" - a opinião de Cristina Alves

 
Foi um post em As Leituras do Corvo que me chamou à atenção para um livro, de autoria portuguesa, com a premissa “se um dia um de nós descobrisse que é o clone do próprio pai?”. Publicado pela Caminho, é um história de Ficção Científica disfarçada – um jovem descobre ser um clone do pai, facto que marca toda a sua existência.
Ainda que a história se centre na influência que poderá ter, no crescimento e desenvolvimento de uma pessoa, o facto de se ter sido clonado, muitos dos episódios resumem-se a algo que já hoje existe, a expectativa depositada pelos pais no rebento que pensam moldar à sua imagem. Independentemente da sua carga genética, cada indivíduo é um indivíduo, e se dois irmãos gémeos podem ser tão díspares quanto o azeite e a água, um clone, vivendo algumas décadas mais tarde, tendo como pais outras pessoas, será, com certeza um indivíduo distinto.
Assim se distingue luis, clone de luis, que veio ao mundo para contornar a esterilidade do casal, um rapaz fisicamente igual ao seu pai, de modos bem diferentes, de ideias ainda mais desiguais, que vive obcecado pela semelhança que observa no espelho todas as manhãs. Os mesmos olhos, as mesmas mãos em porte diferente que, ao lado da rigidez quase militar do pai, o faz sentir um falhado profissional e emocionalmente.
luis, divorciado, sobrevive num pequeno apartamento que ocupou com um casal de cães e que o ajudam a manter a lixeira que o rodeia.  É neste marasmo em que se encontra, que nos relata episódios de infância, as brincadeiras de escola, os amigos com os quais ainda mantém contacto: a ex-mulher e pedro. Inibido pelo criticismo do pai, o discurso de luis é uma eterna comparação, um rol de possibilidades não concretizadas, um questionamento constante em torno da divergência caracterizado por uma perspectiva depressiva tipicamente portuguesa.

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