Acabo de vencer por derradeira vez
estes degraus que há trinta e nove anos repito;
um a um, eu que antes os contava três a três,
um a um, com a tarde inteira em meus dias de aflito.
Cego e surdo, sem voz, presa de tibiez
e do papel vazio que não será escrito,
passo o tempo a pensar no que o tempo me fez,
o corpo em ruínas que já quase desabito.
E entro na sombra deste velho apartamento,
respirando o mesmo ar que já dois respiraram
e que sem ti se foi tornando tão bafiento
como o sussurro das manhãs que nos separam.
Sentado no sofá, invento o adeus da cor
que à noite nos deitava... e espero, meu amor.
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