Henoch ao seu amor perdido". Modifiquei-a (encurtei-a) em 2006. É o meu texto em prosa mais antigo; pelo
menos dos que foram perdoados pelo pequeno incêndio que destruiu grande parte do que escrevi na minha
juventude.
Acaso sou guarda do meu irmão? (Génesis 4,9) E conheceu Caim a sua mulher, que concebeu e deu à luz Henoch. E edificou uma cidade, e deu à cidade o nome do seu filho, Henoch. (Génesis 4,17) |
Viera pela vereda mais curta que aqui nos traz e instalara-se. Começou por ser mal recebido. Quem aqui vivia aprendera a não simpatizar com nada nem ninguém de outro lado. Ainda que, por esses dias, poucos se lembrassem de relações antigas, fossem elas cordiais ou tempestuosas.
– Há cinquenta primaveras que, para lá daquele monte, nada se passa que nos interesse – disse-lhe o velho. – E no dia em que não for assim, alguma coisa há-de estar mal.
No entanto, a ele foram permitindo, sem recriminação, os vaivéns constantes entre aquém e além-monte. Essa ousadia acabou por ser reconhecida como necessária e previsível pelos que mais sabiam, ou pensavam saber, do destino. A sua perseverança valeu-lhe o apodo de mensageiro e aos poucos emergiu nos habitantes a curiosidade, primeiro sobre a vontade dos mais jovens, depois sobre a anuência dos restantes.
Assim, foi-se tornando amigo, de início, e chefe, depois, dos movimentos e anseios de todos. Com a vantagem de não ser um deles, reuniu todos, passando ao lado de todas as histórias.
Finalmente, em terra de ninguém, no cimo do monte, iniciou meu pai a construção da casa. E, ainda se lançavam os seus alicerces, convenceu os ajudantes a continuarem a edificação até ao sopé, em todas as direcções.
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