segunda-feira, 18 de março de 2013

sobrevoo (2001)

quero tudo

estendo os tentáculos quase
     para além das minhas possibilidades
em busca do sopro que o vento inventa
     e da vertigem que o mar trabalha

adormeço de cansaço apenas e nunca
     da procura inacabada
vouvenho em luta e abandono
     consoante o previsto para cada situação
     em minha estratégia

quero tudo
     tudo o que ocupa o infindável percurso
          entre as extremidades do arco-íris
     nas cores que são e nas que seria
          se tudo alcançassem e facetassem
               meus olhos polipinos
tudo neste mar e além-dele

tudo

quero o teu sonho
     menina em maio
     cujos lábios tardam ao entremecer
quero o volátil orgasmo das senhoras
    
entre chás na mexicana
quero a exaltação a dúvida a conquista
    
a perda de eldorados consabidos
    
tragocomédias ou como queiras
quero a angústia da espera
    
o alívio da chegada
     os dias imprevistos
          por noites sem madrugada

tudo tudo

tudo dentro e fora
     aqui e ali
    
agora e noutrora
ser e ter o que há e o que se insinua
     sem que haja o que se insinua
    
nem se insinue o que há
    
sem princípios de incerteza
    
nem sujeições de objecto
    
sem tu de mim nem eu de ti

quero tudo     sim     quero tudo

     mas onde está e como está

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