quero tudo
estendo os tentáculos quase
para além das minhas
possibilidades
em busca do sopro que o vento inventa
e da vertigem que o mar
trabalha
adormeço de cansaço apenas e nunca
da procura inacabada
vouvenho em luta e abandono
consoante o previsto para cada
situação
em minha estratégia
quero tudo
tudo o que ocupa o infindável
percurso
entre as extremidades do
arco-íris
nas cores que são e nas que
seria
se tudo alcançassem e
facetassem
meus olhos polipinos
tudo neste mar e além-dele
tudo
quero o teu sonho
menina em maio
cujos lábios tardam ao
entremecer
quero o volátil orgasmo das senhoras
entre chás na mexicana
quero a exaltação a dúvida a conquista
a perda de eldorados
consabidos
tragocomédias ou como queiras
quero a angústia da espera
o alívio da chegada
os dias imprevistos
por noites sem madrugada
tudo tudo
tudo dentro e fora
aqui e ali
agora e noutrora
ser e ter o que há e o que se insinua
sem que haja o que se insinua
nem se insinue o que há
sem princípios de incerteza
nem sujeições de objecto
sem tu de mim nem eu de ti
quero tudo sim quero tudo
mas onde está e como está
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